Meus queridos Netos:
A propósito da nossa recente viagem a Berlim, contei-vos, numa carta anterior (releiam “Berlim, trinta e um anos depois” e também “Hoje quem fala é o Vôvô”), como foram as nossas peripécias quando, em 1976, visitámos a Alemanha e a cidade de Berlim, ambas nesse tempo divididas em duas partes, uma Ocidental e outra Oriental, esta sob o regime soviético. Por isso, limito-me agora a fazer esta simples referência ao facto e passar adiante.
Continuando com a narrativa das minhas viagens por este mundo fora, falo-vos agora da nossa visita à Grécia, em 1979, onde, além de Atenas e as suas maravilhas, visitámos o Corinto de S. Paulo, Micenas e a Porta dos Reis, o magnífico anfiteatro de Epidauro, o cabo Sounion avançando pelo mar dum azul cobalto como não vi em mais lado nenhum e três ilhas gregas próximas do porto de Pireu, que me aguçaram o apetite para um cruzeiro a outras, espalhadas pelo Mediterrâneo, desejo que ainda não concretizei.
Da Grécia trouxemos, além do enriquecimento cultural, algumas amizades que ainda hoje perduram. Que as viagens também são isso: conhecermos o mundo e o outro na sua diversidade.
Na viagem de regresso a Portugal, num grande e luxuoso avião Jumbo, da Companhia South Africa, aconteceu algo sem graves consequências a não ser uma aterragem não prevista
Mais uma vez por amabilidade da Maria José, passámos três semanas em Estugarda, no sul da Alemanha, tão diferente do Norte de que conhecemos Hamburgo, algumas outras cidades e uma praia no Mar do Norte, onde as ovelhas iam pastar junto ao mar...
Estugarda é uma cidade acolhedora, moderna e tem, entre outras coisas, um Zoo, o Wilhelmina, famoso não só pelos animais que alberga como pelos seus belíssimos jardins, utilizados como zonas de lazer.
De Estugarda demos um salto ao norte da Itália, numa excursão de disciplinados alemães que, mal chegaram, invadiram as esplanadas de Stresa, mais interessados pelo sol e pela cerveja do que por passeios culturais ou outros. N´s, sempre desejosos de conhecer coisas novas, fomos visitar, no Lago Maior, um palácio de conto de fadas que ocupa toda a superfície de Isola Bela, a ilha dos enamorados.
Mas avancemos para outro continente, vamos até à Turquia: Veremos Istambul com jóias como a mesquita de Santa Sofia ou o museu Kopkapi e, já na Ásia, Esmirna, a capital Ancara, com o fabuloso museu da Anatólia e sobretudo a Capadócia. É a região das chaminés de fadas, resultado da erosão, das casas e templos cavados na rocha, e do Lago Pamukale, com as suas piscinas de água quente ornamentadas por estalactites calcárias que são um deslumbramento.
No norte de África visitámos o Egipto, não só o Cairo com as suas grandes pirâmides e um trânsito desgovernado e barulhento de deixar zonza qualquer pessoa, mas também integrados num cruzeiro no Nilo, as cidades das margens do mítico rio, desde Abu Simbel, salva das águas da barragem do Assuão, até Luxor, Tebas, o Vale dos Reis, jazida de tantas personagens célebres da história antiga daquele país, cujos túmulos agora se encontram despojados das riquezas que albergavam, graças à curiosidade científica dos arqueólogos e à ganância dos caçadores de tesouros, perseguidos pela lei.
Não posso deixar de referir o túmulo de Tutankamon cujo triplo sarcófago, todo de ouro o que contacta o exterior, visitámos no museu do Cairo.
E agora, ala que se faz tarde, dirigimo-nos à América do Sul. O Brasil, onde fizemos um circuito extenuante, de avião, durante quinze dias, visitando Recife e Olinda, Salvador da Baía, Brasília, Belo Horizonte e Ouro Preto, S. Paulo e Rio de Janeiro, deixou-me três recordações inolvidáveis: Brasília e os seus modernos edifícios, de que ressalta a imponente catedral, as Cataratas do Iguaçú, que me foi dado admirar também do lado da Argentina e o Rio de Janeiro, com a sua baía maravilhosa, o Cristo do Corcovado, proposto este ano como uma das novas maravilhas do mundo, e a sua praia de Copacabana, onde ficava o hotel que nos acolheu. Como só lá passámos três dias, ficámos sempre com vontade de voltar, o que não creio venha a acontecer, dada a violência que agora se apoderou da cidade, que já naquele tempo não era segura.
Entretanto o México. Foi uma das mais maravilhosas viagens da minha vida, a única, com grande pena minha, em que não fui na companhia do Vôvô. Fui com a tua Oma, Cristina, em substituição da tua Mami que não pôde aproveitar, por motivos profissionais, a viagem já comprada.
No México foi tudo um deslumbramento para mim: a Cidade do México, a sua fabulosa catedral, ao lado o Palácio do Governo com os incomparáveis painéis de Rivera, o Museu de Antropologia e a moderna e imponente Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe. Perto da cidade, as pirâmides de Teotihuacan, a do Sol e a da Lua, impressionantes testemunhos da civilização Asteca.
Depois, como a nossa viagem de quinze dias incluía cidades do interior, maravilhámo-nos com Txaco, a cidade da prata, Mérida e Oaxaca, todas ostentando influências espanholas. E pirâmides por todo o lado, entre as quais merece especial menção a de Chichén Itzá, perfeitamente conservada como quando servia de observatório astronómico, de santuário e de centro do poder civil e religioso. Mais mundano Acapulco, com uma baía a lembrar a do Rio de Janeiro. Aí fizemos um passeio de barco para ver, do mar, casas de celebridades de Hollywood que aí as construíram quando aquela cidade era o último grito da moda. E finalmente Cancum, uma península que mais não é do que uma fila de hotéis de renome no mundo inteiro, feita a partir de estudos de computador. Em Cancum, além da praia, só me seduziu Excaret, uma reserva natural onde há golfinhos, espectáculos tradicionais como o dos “voladeros” e, maravilha das maravilhas, os rios subterrâneos onde qualquer pessoa, munida de um obrigatório colete salva-vidas, pode nadar ao sabor da corrente. Também fiz essa experiência, uma das mais interessantes da minha vida, até porque exigiu uma certa dose de coragem, pois nunca fui grande nadadora.
Queridos netos, hoje fico por aqui porque esta já vai longa. Voltarei brevemente com mais viagens.
Beijinhos da Vóvó