Nunca pensei que os "olhos do meu coração, no dizer de S. Paulo, revelassem pormenores por mim julgados completamente esquecidos...
Quinta-feira, 20.08.09

 

Meus queridos netos:


Já vos falei da minha amiga Luísa e do modo como fui acolhida e vivi na sua casa. Infelizmente, nem sempre uma casa é um lar e bem raro se encontra um lar sem uma casa. Um lar não é só o espaço, mesmo o mais luxuoso, onde se habita e se sonha. É, sobretudo, um lugar de carinho e de sã convivência, que se pode alargar para além da família e acolher, fraternalmente, os que se encontram sós e queremos ajudar.


Um lar sem uma casa é quase um paradoxo, mas é, principalmente, uma grande injustiça. Saber que há alguém a viver numa barraca onde entra o vento e a chuva, estendido, sozinho, num banco de jardim ou amontoado num campo de refugiados, não nos devia deixar desfrutar, tranquilamente, o conforto do nosso lar. È uma ferida aberta na nossa humanidade e cada gesto que nós fazemos só pode ter valor se a ajudar a curar, ainda que, como o óbolo da viúva, for diminuto e até possa fazer falta.


Mas, por sorte minha, foi um lar que eu encontrei na casa da Luísa, uma casa simples e pequena, mas onde cabíamos, cinco pessoas: os seus Pais, os seus dois irmãos mais novos e eu, a última a chegar, todos em boa paz e amizade.


Tínhamo-nos conhecido na Escola Veiga Beirão e quando ela soube que, com a ida da minha Madrinha para África a acompanhar o marido, se desagregava o lar que tinha carinhosamente organizado, congregando o irmão solteiro e os sobrinhos e eu estava preocupada com uma nova mudança (pois a primeira experiência numa família alentejana, conhecida do meu Tio, fora extremamente traumática para os meus onze anos, sempre vividos com os meus Pais e Irmãos) logo falou com os seus Pais e me ofereceu um lugar na sua família. E foi assim que sempre me senti, tratada com igual carinho e exigência, a ponto de, no dia de Natal, e apesar dos parcos recursos existentes, nunca ter deixado de ser mimada com um presente, quase sempre fruto das mãos habilidosas da Luísa, perita em tricotar prendas para toda a família.


Mas isso só aconteceu quando eu entrei na Universidade o que, além das benesses já referidas, ainda me facilitou o acesso ao casarão do antigo convento onde funcionava então a Faculdade de Letras, pois a minha nova casa ficava na Rua do Machadinho, muito perto da actual Assembleia da República. Bastava subir um lance de escadas e, um pouquinho mais à frente, lá estava o largo portão, que dava entrada ao «templo do saber», onde iriam decorrer os próximos quatro anos da minha vida.


A Luísa que, entretanto, já tivera de enfrentar graves problemas (entre eles o do internamento da Mãe, durante um ano, no Sanatório do Caramulo), tinha continuado no Instituto Comercial e, passados mais três anos de estudo, ingressara na Faculdade de Economia, onde se licenciou. Como se costuma dizer, a sua vida dava um romance: de sofrimento, de coragem e sobretudo de abnegação, não só pela dedicação que votou a causas como a da Democracia, mas sobretudo pela devoção à família. A sua Mãe, a minha grande amiga Ema a quem sempre dediquei muito afecto e admiração, começou a ver mal ainda muito nova e, certa de que viria a ficar cega, decidiu treinar o tacto, mantendo, sempre que podia, os olhos fechados, sem largar as suas tarefas. Mas tanto nessa altura como mais tarde, quando a cegueira se tornou total, manteve sempre um imbatível optimismo e o sorriso no rosto. Para essa disposição muito contribuiu a Luísa que, principalmente quando regressou do seu exílio em França, lhe deu até ao fim da sua longa vida, todo o apoio e carinho que não pôde dedicar, por motivos de saúde e outros, a uma família sua que bem desejaria ter constituído. Tão certa se sentia a Mamã Ema da sua ajuda indefectível, que me disse, muitas vezes, a sorrir: «Eu sou as pernas da Luísa e a Luísa é… os meus olhos». Isto porque a filha sempre tivera muitos problemas de saúde, especialmente a nível ósseo, iniciados com uma poliomielite que a obrigou a fazer os estudos primários no Hospital da Parede e a perseguiram pela vida fora, o que não a impediu de ter cuidado da Mãe, sempre em casa, até à hora da sua morte, bem ultrapassados os noventa anos.


Lembro-me da aflição em que todos ficámos, quando eu vivia lá em casa, porque, um dia, subitamente, a Luísa sofreu uma oclusão intestinal e teve de ser internada de urgência num Hospital. Escrevi então um dos meus poemas, que seguirá esta carta, com um outro de que a Luísa gosta tanto que ainda hoje o sabe de cor.


Apesar daqueles quatro anos em que fomos tão íntimas, em que nos relacionámos como verdadeiras irmãs, passámos muitos anos sem nos vermos, ela em Paris e eu em Angola. Também agora só nos vemos de tempos a tempos, pois moramos longe uma da outra, mas a nossa amizade sobreviveu a todos os embates e persiste inteira, como eu gostaria que vós os dois encontrassem, um dia, uma amizade assim. Pelo menos uma…


Desculpem uma carta tão longa, mas muito ficou ainda por dizer.


Beijinhos da Vóvó


A MENINA ESTÁ DOENTE

 

A menina está doente
e a casa ficou vazia;
parece maior a casa
e longo, mais longo o dia.

 

O Sol foi-se com o sol,
não ficou no seu olhar.
Vão-se as horas devagar,
lentamente devagar.

  

Que ninguém faça barulho
na grande casa vazia.
Não façam demorar mais
as horas do longo dia.

 

O sol virá com o Sol,
Voltará no seu olhar.
E será mais breve o dia
quando a Menina chegar.

       

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Se tiveres dois pães,
vende um pão,
compra um lírio
e não o deixes murchar.

 

Com metade do pão
que te sobrar,
mata a fome dos outros.
E verás como o lírio refloresce
e como até a tua própria fome
com metade dum pão desaparece.

 

 

 

 

 

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Sábado, 15.08.09

 

Meus queridos netos:


Nestas cartas que tenho escrito para vós, o protagonismo da Cristininha pode causar alguma justificada estranheza: o meu outro neto, o Zezinho, tem permanecido ausente, mas já vos explico porquê.


Foi já no entardecer da nossa vida que o Zezinho, agora com três anos e meio, apareceu como um raio de sol, trazendo-nos a alegria dum novo recomeço e a esperança de nos vermos lembrados através dele, numa existência que lhe desejamos longa, feliz e com o coração aberto ao Bem, iluminada pela presença de Deus e aberta às necessidades do próximo.
Nos dois primeiros anos de vida, era uma criança muito activa, que não dava descanso aos seus Pais e manifestava a sua personalidade pela insistência que punha na realização dos seus desejos. Se não conseguia vê-los realizados, lá vinha uma forte birra, geralmente acompanhada por ensurdecedora gritaria que não durava muito tempo. Imediatamente aparecia, no seu rosto angelical, um desarmante e consolador sorriso que a todos encantava e enternecia.

 

Como começou a falar muito tarde, parecia-nos que um dos motivos dessas suas birras era o desejo de se exprimir, sobretudo quando já compreendia muito do que lhe diziam e se passava à sua volta. Com o passar do tempo, tornou-se um pouco mais paciente, interessado pelas coisas e, desde que começou a falar, não pára um momento calado, sempre a palrar como que para recuperar o tempo perdido. Diz coisas muito engraçadas e reveladoras da sua lógica infantil: habituado a ser ele o contemplado com a quase totalidade das prendas, quando os seus Pais fizeram anos, há um mês atrás, oferecemos-lhes uma garrafa de licor e os respectivos copinhos de cristal. Quando eu disse: «Esta prenda é para o Papá e para a Mamã», ele acrescentou imediatamente: «Para o Papá, para a Mamã e para o Zezinho. É para todos» E o pior é que, no dia seguinte, queria brincar com os copos pequeninos, ou ainda melhor, levá-los consigo para o Jardim Infantil.


Mas não é minha intenção, nesta carta limitada pelo espaço, falar das «gracinhas» do meu neto, cada vez mais frequentes e imprevisíveis. Quero, acima de tudo, mostrar como, tanto o Vôvô Emílio como eu o amamos, embora o seu convívio connosco seja bastante escasso, pois as forças já não são as que eram há catorze anos, quando nasceu a nossa neta Cristina. Além disso, ele tem vivos e sempre prontos a acolhê-lo os seus dois Avós maternos, enquanto a prima só nos tinha a nós.


De qualquer modo, quando ele nos entra porta dentro, a precipitar-se para os nossos braços abertos e nos dá os seus repenicados beijinhos, com o luminoso sorriso que continua a irradiar da sua face, é sempre o mesmo raio de sol a aquecer-nos este final de vida, que, sem ele, não teria a mesma força e alegria.

 

Beijinhos dos Vóvós
 

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Terça-feira, 11.08.09

 
Meus queridos netos:


Esta semana da Cristininha, passada na nossa companhia e na do seu Pai, puxou-lhe pela costela de «escritora» e assim, além destas três mensagens que resolvi incluir no meu blogue, ainda escreveu um longo texto, misto de afectos e de «crítica literária», sobre aquilo que conhece dos meus escritos e da minha paixão pela leitura. Além dos três grandes livros que «devorou», entre os quais o Mar Morto, de Jorge Amado.


Diz ela, nesse texto, que fui eu que lhe incuti a sua paixão pela leitura e pela escrita, pois, a partir dos três anos e meio e depois de ter adormecido, noite após noite, a ouvir e, muitas vezes repetidamente, histórias de encantar, que iam da Gata Borralheira e afins ao belíssimo livro de Miguel de Sousa Tavares, O Segredo do Rio, púnhamo-nos as duas a escrever histórias a meias: ela inventava os títulos, por exemplo Márika, a Flor Vermelha, e começava; depois íamo-nos revezando, suprindo eu as suas faltas de imaginação. Ela ilustrava-as com uns desenhos incipientes mas engraçados depois de eu as ter acabado de escrever. Essas pequenas e ingénuas histórias são, por mim, religiosamente guardadas para lhas dar mais tarde.


Mas toda esta actividade não impediu que ela dedicasse ao seu Pai esta saudosa e comovente mensagem:

 

O meu pai:
O meu pai chama-se Joaquim Manuel de Sousa Relvas, mas eu chamo-o só papi, porque “pai`s” há muitos mas “papis” há só um, o MEU! O meu pai era mais uma ama-seca. Quando eu era mais pequena, era ele que tratava de mim: mudava-me as fraldas, dava-me de comer (uns biberões enormes, que tinham imensas vitaminas e cálcio) e eu, como a-d-o-r-a-v-a essas coisas boas, comia a paparoca toda e ainda chorava por mais. Mas não se tratava só de fazer comida, mas sim também de “eliminar” os restos que a comida deixava mais tarde para trás, ou seja mudar as fraldas. Pois, isso não era tarefa fácil e de certeza que não era a que o papi mais apreciava.


Mesmo sendo eu uma rapariga muito complicada, o meu pai nunca desistiu, pois gostava/gosta muito de mim!


O meu pai e eu corremos muitas aventuras juntos Quando ele morava em Santarém, eu ia lá passar o fim-de-semana e tínhamos aventuras fantásticas! Quando, à noite, o céu estava cheio de estrelas cintilantes, nós deitávamo-nos lá fora, no jardim, e ficávamos, por vezes, horas a fio a contemplar aquele deslumbrante espectáculo. Frequentemente também, íamos acampar a um sítio chamado “Olhos de Água”. Era um verdadeiro santuário da Natureza, onde nasce o rio Alviela. Nesse rio, nós íamos tomar banhos que duravam sempre muito tempo, pois eu nunca estava preparada para ir embora. Era sempre. “ Ó papi… Só mais 5 minutos!” E o papi sendo um pai esplêndido, concordava. Embora esses 5 minutos passassem a ser umas horas.  Uma vez estávamos nós a fazer a nossa comida para o jantar, veio de lá um cão e roubou-nos os bifes! Nós, estando cheios de fome, só podemos comer salada. Mas esta situação deu-nos uma boa risada, vendo tudo pelo lado positivo, claro.


O meu pai também tinha uma mota. Era uma mota vermelha reluzente, embora já não muito nova. Andávamos nela pelo campo. O papi ao volante e eu atrás agarrada a ele. Claro que não íamos a grande velocidade, mas mesmo assim era divertido.


O papi a certa altura mudou-se para o Montijo e comprou uma casa grande, com três quartos. E eu tinha direito a ter um quarto inteiro só para mim! Como tínhamos uma cozinha bem ampla e toda equipada, fazíamos grandes jantares, almoços e pequenos-almoços. Na sala havia uma lareira para que no inverno a casa não estivesse fria. Mas nós não usávamos a lareira só para aquecer a casa, mas também para fazer umas castanhas bem quentinhas. Depois sentávamo-nos no sofá a comer castanhas e a ver um filme ou então, simplesmente, falávamos.


A certa altura o papi decidiu comprar um cãozinho, chamado Pantufa. Era um cão muito querido (e bem gorducho). Ainda era um bebé, um bebé muito animado e queria sempre muita brincadeira. A certa altura a Pantufinha (assim também o chamávamos) comeu uma larva venenosa num jardim e infelizmente faleceu. Claro que o papi ficou muito abalado com tal situação e, então, decidiu comprar um outro companheiro: um Yorkshire. Divertimo-nos muito com ele. Era um cão muito activo e inteligente.


Como o meu pai não se fartava de ter aventuras, resolveu comprar uma caravana para assim podermos fazer belos passeios. No último Verão, o meu pai decidiu fazer-me uma surpresa, levando a sua caravana até ao Algarve para podermos ir acampar. Foi uma verdadeira aventura, pois só chegámos à noite ao parque de campismo. Foi muito difícil prender a roda da caravana ao chão para não escorregar e ainda por cima o parque estava cheio e mal havia espaço para nós, pelo que tivemos de ficar num sítio muito inclinado. Mas mesmo com algumas dificuldades conseguimos passar uns dias muito agradáveis.


Claro que tivemos ainda imensas aventuras, sobre as quais poderia escrever mais umas quantas páginas, mas isso fica para mais tarde.
Agora, como o meu pai vive em Lisboa, só o visito nas férias e nos dias de festa. Claro que fico sempre com muitas saudades quando volto para o Algarve, mas sei que em Lisboa tenho uma segunda casa onde posso sempre ficar quando precisar.


Com muito carinho,
Para o melhor papi do mundo!


Cristina Kohlhoff Feijó Relvas
24 de Julho de 2009

publicado por clay às 00:20 | link do post | comentar | favorito
Quinta-feira, 06.08.09

 Meus queridos netos:


Como era de esperar numa menina gentil como a nossa netinha, também o Vôvô (e o Papi, como verão), foram contemplados com longas mensagens, muito carinhosas e bem escritas, em que ela exprime todo o amor que nos dedica. E como não era justo, e até podia ser levado à conta de vaidade, que eu só pusesse no blogue a que me foi dirigida, aqui fica também a que muito comoveu o Vôvô, tanto mais que foi escrita no dia 26 de Julho, «Dia dos Avós»:


O meu vôvô:

O meu vovô chama-se Emílio Miranda Relvas. Ele poderia ser um famoso escritor de histórias, escrevendo, na maior parte das vezes, sobre a sua vida e aventuras passadas. Mas prefere escrever para a sua netinha que gosta tanto de ouvir as suas histórias aventureiras.


Muitas vezes o avô relembra-se da sua antiga vida, de quando era ainda mais novo e percorria o mundo em busca de novas aventuras. Ter tido uma vida tão diferente desta, em Angola, fez com que o vôvô tivesse possibilidade de colher muitas e variadas experiências. O meu avô andou muito pelas terras angolanas onde até fez de juiz. Uma vez encontrou-se perante uma situação muito complicada. Resumindo, dois homens e um cão. Pois, podem pensar que mal têm dois homens e um cão? Na verdade não tem mal nenhum, se não se desse o caso de ambos os senhores angolanos reclamarem o cão, dizendo ambos serem os seus donos. O meu vôvô não sabia bem como resolver tal situação, pois não havia maneira possível de provar de quem era realmente o pobre animal. Pensou arduamente em como resolver este caso, mas simplesmente não lhe ocorria qualquer solução. Mas de repente teve uma ideia: pensou numa antiga história, a sentença de Salomão. Claro que não iam dividir o pobre do animal ao meio. Chamaram os senhores que afirmavam serem os dois os donos do cão, e pediram para irem cada um para seu lado de uma grande sala em que se encontravam. O cão foi posto exactamente no meio da sala, entre os dois “donos”. Depois o meu avô ordenou que ambos chamassem pelo nome do rafeiro. O verdadeiro dono seria o que o cão escolhesse para ir ao seu encontro. A princípio, o animal parecia um tanto indeciso mas, felizmente, decidiu-se e, assim, se resolveu o problema.


E, passado tanto tempo, o meu avô veio para Lisboa e, alguns anos depois, recebeu, como prenda, uma netinha chamada Cristina. Foi o meu avô que me foi buscar tantos anos seguidos à escola, quando ainda morava em Lisboa. Esperava por mim ao portão e lá vinha eu toda animada de poder estar de novo com os meus avós. Todas as vezes o meu vôvô agarrava-me com a sua tão grande mão (nessa altura a mão dele parecia-me muito maior que agora, mas isso devia-se a que eu era muito mais pequenina que ele, agora já estou muito maior) no meu tornozelo e via se ainda estava acordada, pois tinha o hábito de adormecer de imediato logo que entrava no carro. Eu acordava logo e fingia não estar nada ensonada. A reacção do meu avô era rir.


Como já contei no outro texto sobre a minha vóvó nós íamos a muitos parques. Quem nos levava aos parques? O meu vôvô. Uma vez, no parque de Monsanto, sucedeu um pequeno “acidente”. Eu estava toda animada a brincar ao pé do lago, até que a certa altura caí lá dentro e fiquei encharcada. O vôvô teve de ir a casa buscar-me roupa seca e uma toalha. Mesmo assim estava o tempo todo sorrindo.


O vôvô adorava jogar Xadrez. Um dia ele convenceu-me a jogar um joguinho com ele. Primeiro teve a paciência de me explicar como se jogava este novo jogo, que, ao princípio, me pareceu muito complicado; mas com o passar do tempo, tornou-se mais fácil. Com tanta prática adquirida a jogar com o vôvô, comecei a ganhar muitas partidas. Então tive de me concentrar noutro adversário que estivesse á minha altura: o papi. Mas agora que estou mais velha nem o papi me consegue ganhar (só quando estou muito cansada e ele teima jogar mais um jogo). Mesmo assim gosto de ter um bom jogo com o meu antigo “professor” de Xadrez, o vôvô. Espero disputar ainda muitos jogos com o meu vôvô e aprender muito mais técnicas de como ultrapassar um obstáculo, não só no jogo mas também na vida.


Com muito carinho,
Para o melhor vôvô do mundo!
Cristina Kohlhoff Feijó Relvas
25 de Julho de 2009

 

publicado por clay às 00:12 | link do post | comentar | favorito
Sábado, 01.08.09

 Meus queridos netos:


Fez ontem duas semanas que a nossa neta Cristina veio passar com os Vóvós alguns dias preciosos das suas bem merecidas férias, pois foi a melhor aluna da turma da sua Escola no Algarve, onde, em breve passará a frequentar o nono ano. Fizemos um fim-de-semana prolongado em Belmonte, onde fomos assistir ao baptizado de dois priminhos dela, como vos contei na carta anterior.


Hoje, não resisto à tentação de reproduzir no meu blogue o texto que ela escreveu para mim e que muito me enterneceu.


A minha avó:
A minha avó chama-se Clementina Ferreira de Sousa Relvas, mas eu chamo-a simplesmente vóvó, por razões óbvias. É claro que também a podia chamar só avó ou Clementina, mas acho que o nome vóvó é mais adequado para ela.


A minha avó é uma pessoa muito activa que não consegue parar quieta. Todas as manhãs se levanta muito cedo (por volta das seis da manhã) e, depois de passar muito tempo a rezar, começa a mexer-se logo. Realmente há muito que fazer numa casa como aquela onde a minha vóvó mora. Tem de se preparar o almoço e o jantar, tratar da roupa e satisfazer os muitos pedidos da sua netinha Cristina (eu).


Quando era mais pequena era a minha vóvó que ficava comigo, porque a minha mami trabalhava muito e nem sempre tinha tempo para mim. Fazíamos muitas passeatas e divertíamo-nos muito. Sendo a vóvó uma pessoa muito activa, alinhava sempre nas minhas brincadeiras maluquinhas. Gostava muito de ir a um parque (o parque dos índios, na serra de Monsanto) e então lá ia a minha vóvó comigo a puxar o meu carrinho (quando ainda era um bebé). Tenho de confessar que não era dos bebés mais magrinhos, pois o meu pai (Joaquim Relvas) dava-me valentes biberões de fruta com muitas vitaminas e cálcio e eu, sendo uma menina gulosa como sou (ainda hoje), comia o produto todo e chorava por mais.


Nestes passeios a minha avó sempre foi muito divertida e nunca parava de me fazer sorrir. Claro que nós não só íamos passear a este tal parque, também íamos a outros sítios: por exemplo, ao Jardim do Beau Séjour, que ficava mesmo ao lado da casa que a minha vóvó então habitava, e aí comíamos os grandes lanches que levávamos numa cestinha de verga, enfeitada com uma toalha bordada. Nunca nos esquecíamos de dividir o pão com os cisnes, patinhos e pombos que animavam o lago e também com os peixinhos vermelhos que se saracoteavam na pequena gruta, revestida de avencas. Eu gostava muito da natureza. Então, uma vez, convenci a minha vóvó a ir comigo numa “expedição aventureira”. Nós levávamos um piquenique e mais algumas coisas, como por exemplo um bloco-notas, uma esferográfica, uma lupa, um livro sobre a natureza e os seus animais etc. O nosso destino era fazer uma caminhada sobre a serra de Monsanto, a pé, e contemplar a paisagem e os animais. A nossa caminhada foi um sucesso! As horas decorridas pareceram-nos só escassos minutos. Pois, porque no mundo que eu tinha com a minha avó o tempo passava sempre demasiado depressa. 


Agora que já estou mais crescida (14 anos) já não faço mais coisas desse género com a minha vóvó. Mas, para compensar, vamos as duas juntas a museus, ao cinema, ao teatro etc., enfim a sítios que, quando eu era pequenina, não me interessavam assim tanto (para falar verdade, achava muito mais divertido estar com a minha vóvó num mundo imaginário, nas nossas tão criativas brincadeiras, do que ir a sítios desses). Mas agora, mais amadurecida, já gosto de fazer companhia á minha avó nessas actividades. Com a idade mudam os gostos.


Sendo os meus pais divorciados, e vivendo eu, neste momento, no Algarve, longe da minha vóvó (que mora em Lisboa), não posso passar tanto tempo com ela de como costumava passar até aos meus nove anos. Agora venho visitar a minha avó a Lisboa quando tenho férias. E ela às vezes também me vem fazer uma visita-surpresa em conjunto com o meu vovô (Emílio Miranda Relvas). Quando a minha vóvó me vem visitar, então é a minha vez de lhe mostrar as coisas boas do Algarve (que são muitas). Assim ela também tem oportunidade de escapar ao seu dia-a-dia e estar com a sua neta.


Claro que eu poderia escrever muito mais sobre a minha vóvó, mas acho que vocês já podem imaginar mais ou menos como ela é. Resumindo e concluindo ela é uma pessoa amável, carinhosa, que se preocupa com os outros, gentil, teimosinha (mas só de vez em quando) e acima de tudo é a minha VÓVÓ!


Com muito carinho para a melhor vóvó do mundo!


Da sua netinha,

Cristina Kohlhoff Feijó Relvas
23 de Julho de 2009


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