Nunca pensei que os "olhos do meu coração, no dizer de S. Paulo, revelassem pormenores por mim julgados completamente esquecidos...
Sexta-feira, 26.02.10

Bordado em seda, executado pela Bisavó Inês quando tinha 16 anos de idade. Naquele tempo (1909) as meninas aprendiama fazer estes trabalhos na Escola.

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Segunda-feira, 22.02.10

                    

(Meditação sobre a Mensagem de Bento XVI- Quaresma de 2010)
               
Quarenta dias de oração, jejum
e de renúncia, para mudar a vida:
abrir-me a Deus e ao próximo,
deixar a carapaça do egoísmo
herdado do pecado original,
e lançar-me no êxodo de mim,
à procura de Deus, do Seu sinal,
para Lhe dizer “sim”.
 
Todo o homem tem sede de justiça,
mas nas raízes do seu coração
há germes de convívio com o mal,
fontes de inquietação e de incerteza
que tapam seus ouvidos aos lamentos,
seus olhos à miséria do irmão
- sua humana fraqueza.
 
Sabemos que a justiça vem da graça
e do gesto de amor que moveu Cristo
a assumir a humana “maldição”,
transformando-a na “bênção”que nos move
a recorrer a Ele, nas horas más
da nossa frustração.
 
Cristo é o Outro, humildemente o digo,
que, ao dar a Sua vida em meu favor,
me libertou do “meu”, me deu o “seu”
e Se fez, para sempre, meu credor.
Nunca eu poderia esperar tanto
e jamais, a não ser por Sua graça,
poderei ser a luz que d’Ele emana,
por mais jejuns e orações que faça.
 
Lisboa, 22 de Fevereiro de 2010
 
      (Publicado no Jornal “Calhariz Jovem da Paróquia da Sagrada Família, S. Domingos de Benfica)
 
                               Clementina Relvas

 

 

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Terça-feira, 16.02.10

 

Os meus olhos encheram-se do pó
das casas a ruir,
e, mesmo assim, captaram imagens
de corpos esmagados,
de braços estendidos dos escombros
pedindo, em vão, auxílio,
tarde para o pedir.
 
Uma velhinha rezava na Catedral
e salvou-se.
De cara enrugada e suja,
era Jesus que estava nos seus lábios
e, Água Viva,
não deixou que secassem,
não deixou que parassem
de rezar.
 
Um menino, ao colo dos bombeiros,
saudava a vida, de braços estendidos
a Jesus,
que é para sempre,
no Presépio ou na Cruz.
 
 
E eu perguntava-me:
“Porquê, Senhor, porquê
só alguns e não todos?
Não haveria justos entre os mortos
e pecadores nos que foram poupados?»
 
Aflita, sem resposta,
lembrei-me das palavras de S. Paulo:
“Nós hoje vemos como por um espelho,
de maneira confusa”,
mas temos a melhor de todas as respostas:
a virtude maior, a Caridade,
que não nos deixa ignorar o próximo,
deixá-lo, sem socorro à beira da estrada
e seguir nossa rota de egoísmo,
de faz de conta que não vimos nada.
 
                                     Lisboa, 29 de Janeiro de 2010
 
                                               Clementina Relvas
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Segunda-feira, 15.02.10

                      

Meus queridos netos:
 
                               Para o Zezinho, nos seus inocentes quatro anos de idade, esta terrível catástrofe não existiu. Talvez a venha a conhecer quando, se for curioso da História, ler o muito que se escreveu sobre este inesperado e devastador abalo sísmico que, no passado dia 12 de Janeiro deste ano de 2010 , quase reduziu a cinzas a cidade de Port-au-Prince e outras localidades da ilha de “Espanhola”, que o Haiti partilha com a República Dominicana, nas Caraíbas.
                               Já o mesmo não sucedeu com a Cristininha, chocada e comovida com as imagens e os relatos da tragédia, repetidamente difundidos por todos os meios de comunicação social, a nível planetário, tanto mais que, pouco tempo antes, tinha experimentado a assustadora sensação dum abalo sísmico que se sentiu particularmente no Algarve, embora sem consequências de gravidade. Para ela, como para outros que porventura me lerem, talvez vejam um retrato dos horrores ocorridos no Haiti, nestes versos de Voltaire, poeta e filósofo francês que os escreveu em 1756, um ano após o grande terramoto que assolou Portugal no dia 1 de Novembro de 1755 e que, dado o grau de devastação e o número de mortes, ficou conhecido como o “Terramoto de Lisboa”, cidade quase reduzida a escombros.
                               Eis aqui um breve extracto do “Poème sur le désastre de Lisbonne”, que foi traduzido e publicado pelo poeta Vasco da Graça Moura, não tanto pelo seu valor literário mas pelo impacto que causou no seu tempo, opondo as suas ideias iluministas de que Deus nada teria tido a ver com isso, à pregação do missionário italiano Padre Malagrida que atribuiu a causa do terramoto a um “castigo divino”. Por seu lado, Rousseau, contemporâneo de Voltaire, embora afirmando que o mal estava na corrupção da “integralidade humana” pela sociedade e pela sua irracionalidade, pela sua incapacidade de manter o carácter original e bom dos filhos do Senhor, não descura um elemento bem pragmático: a dimensão do desastre resultou do urbanismo absurdo que construiu um grande aglomerado de casas de seis e sete andares no centro da cidade. Seja como for, eis o cataclismo de Lisboa (ou do Haiti…), retratado nos versos de Voltaire:
“Descobri, contemplai as ruínas horrorosas,
estes restos, farrapos, as infamadas cinzas,
mulheres, crianças jazendo uns sobre os outros.
Sob mármores partidos, os membros amputados
os cem mil desgraçados comidos pela terra
que, sangrando, despedaçados e ainda palpitantes
jazem sob os seus tectos, morrendo, sem socorro
no horror dos seus últimos dias lamentáveis”.
 
Por esta semelhança e pelos recursos que foi preciso mobilizar para acudir a tão grande desespero, é que o Ministro das Relações Exteriores do Brasil invocou o poema de Voltaire, a propósito da tragédia do Haiti. E o mesmo faço eu, sublinhando que, enquanto agora muitos países do mundo se têm empenhado na ajuda àquelas martirizadas populações, em Portugal, no século XVIII, toda a obra de reconstrução de Lisboa e do resto do país se ficou a dever ao esforço indómito dos portugueses e à determinação dum estadista de génio: o Marquês de Pombal.
Beijinhos dos Vóvós e até à próxima carta.
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Sábado, 13.02.10

 

 

Além do PATINHO FEIO Hans Christian Andersen escreveu inúmeros contos que fizeram a delícia de gerações, entre os quais, os seguintes:

 

A PRINCESA E A ERVILHA

A POLEGARZINHA

O FATO NOVO DO IMPERADOR

O FIRME SOLDADO DE CHUMBO

O ROUXINOL

A PASTORA E O LIMPA CHAMINÉS

A FAMÍLIA FELIZ

O DUENDE DA MERCEARIA

DANÇA, DANÇA, BONEQUINHA

UMA ROSA DA CAMPA DE HOMERO

O TRIGO MOURISCO

 

Os contos acima mencionados podem ser lidos e apreciados, na íntegra e em bom português, no sítio:  http://guida.querido.net/andersen/index.html

 

 

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Sábado, 06.02.10

 

 Aqui vai mais uma cartinha, a última sobre o nosso amigo Hans, seguida do conto "O Patinho Feio"

   

                                   Meus queridos netos:
                        Vamos lá então, como prometido, com Jorge e José O’Neill, acompanhar o nosso amigo dinamarquês na sua nova viagem. Embora tenham ido de comboio até Coimbra, guardam para o fim a visita da célebre cidade universitária. Por agora, seguimos até Aveiro, mas o tempo não o vai deixar apreciar a beleza desta cidade: “Quando chegámos, descia o nevoeiro, húmido e agreste, um verdadeiro pedaço da névoa das costas do mar do Norte. Era a época das marés baixas, pelo que só vimos o fundo do rio pantanoso, sem corrente. A canalização da água, longa e baixa, exibia as paredes húmidas. As muitas mulheres que passaram por nós traziam roupas espessas mas pareciam tiritar sob os grandes xailes. Devo admitir que foi aqui que vi os primeiros belos rostos de mulher em Portugal, ainda que a sua beleza não fosse ajudada ou destacada pelo vestuário”.
                        Depois de relembrar o enforcamento do Duque de Aveiro no reinado de D. José, diz, desconsoladamente: “É esta cidade denominada a Veneza portuguesa, mas nada aí, a não ser os barcos à vara semelhantes às gôndolas, lembra a cidade do Adriático”. E um passeio de carruagem pelas ruas estreitas da cidade fê-lo chegar à seguinte conclusão: “A cidade em si nada nos ofereceu de notável”.  E, como Jorge O’Neill já tivesse resolvido os assuntos que aí o tinham levado, partem para Coimbra. Na estação, são assaltados por uma verdadeira horda de cocheiros a disputarem as bagagens e o lucro de os levarem nas respectivas carruagens, o que lhe fez lembrar Espanha. Mas tudo valeu a pena, pois é assim que Andersen nos fala de Coimbra: “ A cidade propriamente, elevava-se como todo um ramo de esplendorosas flores”. Depois faz a descrição das ruas e das casas, das escadarias que lhes dão acesso e detem-se na apreciação dos estudantes e dos seus trajes pitorescos: “Compõe-se duma casaca longa e preta e duma curta capa da mesma cor. A maior parte anda em cabelo, nas ruas e ao longo do rio Mondego. O barrete que alguns trazem é grande e pesado, uma espécie de barrete polaco pendente”.
                        Visita o Convento de Santa Cruz, onde o abandono é visível. Mas “Na igreja, de cada lado do altar-mor, erguem-se dois imponentes túmulos com figuras esculpidas em mármore. Aí repousam os restos de D. Sancho I e D. Afonso Henriques”. Sobe depois à Universidade, “edifício grande que ocupa todo o alto da cidade” e daí vai para o Jardim Botânico “rico em flores e árvores”, mas onde não se via “vivalma” Desce ao rio Mondego que mulheres de saias arregaçadas atravessavam a vau, e dirige-se, pela “ponte velha de muitos arcos”, para o Convento de Santa Clara e daí para a Quinta das Lágrimas, que o leva ao relato dos amores e morte de Inês de Castro, e aos versos de Camões: “ As filhas do Mondego a morte escura/Longo tempo chorando memoraram…”
                        No dia seguinte, foi com um amigo assistir à imposição do capelo a um jovem doutor, cerimónia que pormenorizadamente descreve. “Vi depois a imponente capela, a sala do trono e a biblioteca em estilo rococó”, onde o bibliotecário lhe mostrou várias edições raras de Os Lusíadas e duas Bíblias manuscritas, em hebraico, que muito o impressionaram pelo seu aprimorado lavor
                    Embora, entretanto, tivesse começado a chover, Andersen aconselha: “Coimbra é uma cidade que se deve visitar não apenas por uns dias mas durante algumas semanas, convivendo com os estudantes, procurando o ar livre e a bela natureza, isolando-se e deixando que na memória se desenrolem lendas e canções, recordando a história da cidade”.
 
               De regresso a Lisboa e, depois dum curto repouso na Quinta do Pinheiro, a partida para Sintra, “tão cantada pelos poetas”: o “novo paraíso” segundo Byron ou, como disse Garrett: “Aqui a Primavera tem o seu trono”. Andersen vai para casa de José O’Neill, nos arredores duma vila cheia de forasteiros, diplomatas e gente rica de Portugal, muitos dos quais aí têm as suas mansões.
 
                 O Palácio da Vila não lhe merece especial interesse. Diz apenas: “No velho palácio da vila passa o rei reinante, D. Luís, uma parte do Verão” e acrescenta: “..o velho palácio tem o aspecto de um convento com pequenos anexos. Os muitos terraplenos ajardinados têm todos fontes. Duas chaminés acopladas, que mais parecem garrafas de champanhe, dominam todo o edifício, a que falta inteiramente beleza”.  Já o mesmo não acontece com o palácio do rei D. Fernando (o Palácio da Pena), “no seu estilo meio mourisco, meio italiano”. “Diferente, mais belo e pitoresco, o palácio de D. Fernando eleva-se no alto, dominando toda a região” É pouco, mas a atenção do nosso viajante está toda concentrada na paisagem que o tem completamente rendido: “Todo o caminho da serra é um jardim, onde natureza e arte maravilhosamente se combinam, o mais belo passeio que se pode imaginar. Inicia-se com cactos, plátanos e magnólias para terminar com vidoeiros e espruces entre selváticos blocos de rocha. Gerânios de todas as espécies e cores floriam aí em grande quantidade, belos cardos brilhavam ao lado da murta com a sua neve de flores brancas e odorosas. Caminhos isolados subiam por entre velhos muros cobertos de hera e rochas que, ao caírem, haviam formado arcos naturais. Pode ver-se até bastante longe lá de cima, na direcção de Lisboa, até aos montes na outra margem do Tejo, o Oceano Atlântico distante e para os lados de Sintra, no fundo, a grande planície que se estende até ao Convento de Mafra. O ar estava tão límpido que julguei poder contar as janelas do palácio, embora estivesse a algumas milhas de distância”.
                 Foi com muita saudade que Andersen teve de deixar esta vila que tanto o encantou e onde reencontrou alguns amigos, entre os quais o Marquês de Fronteira. Mostra-o com estas belas palavras: “Diz-se que todo o estrangeiro poderá encontrar em Sintra um pedaço da sua pátria. Eu descobri a Dinamarca”.
                E, depois duma noite tempestuosa na Quinta do Pinheiro e de alguns dias passados em Lisboa, embarcou finalmente, com tempo auspicioso, no navio “Navarro”, “um verdadeiro hotel flutuante”, onde fez uma agradável viagem até Bordéus e donde partiu de novo para a sua amada Dinamarca.
Que grande viagem por Portugal! Gostaram? Eu adorei.
Beijinhos dos Vovós

O Patinho Feio, um dos contos mais populares de Andersen:

Estava muito agradável no campo. O ar rescendia a Verão; o milho estava amarelo; a aveia estava pronta a ser ceifada; as medas de feno nos prados pareciam pequenas colinas de erva e a cegonha passeava por cima delas com as suas longas pernas vermelhas. A toda a volta dos campos havia bosques e florestas com fundos lagos de água fresca. Sim, estava mesmo muito agradável no campo. E, brilhando ao sol, podia ver-se uma velha mansão rodeada por um fosso. Grandes folhas de azedas cresciam nas paredes até à água; algumas eram tão grandes que uma criança podia ficar de pé debaixo delas. À sombra podia-se até pensar que se estava numa florestazinha secreta e primitiva.

Era aí que uma pata chocava os seus ovos no ninho. Porém, já estava a ficar bastante farta, porque os patinhos nunca mais apareciam; quanto a visitas, quase não as tinha; os outros patos preferiam nadar no fosso a ir ter com ela debaixo das grandes folhas para conversar.

Por fim, os ovos começaram a estalar, um a seguir ao outro.

— Pip, pip!

O ninho ficou cheio de avezinhas que deitavam as cabeças fora das cascas.

— Quac, quac! — disse a mãe. — Depressa, depressa! E as criaturinhas saíram o mais depressa que puderam e olharam à sua volta, no abrigo de folhas verdes; e a mãe deixou-as olhar à vontade, porque o verde faz bem aos olhos.

— Como o mundo é grande! — disseram os pequenos.

É claro que agora tinham muito mais espaço do que dentro dos ovos.

— Pensam que o mundo é só isto, seus patetas? — perguntou a mãe. — Ora! O mundo estende-se muito para além do outro lado do jardim, mesmo até ao campo do vigário. Embora, verdade seja dita, eu nunca tenha lá estado. Já cá estão todos, não estão? — Levantou-se do ninho. — Não, tu ainda não. Ainda falta o ovo maior. Quanto tempo demorará ainda? Estou mesmo farta disto, se querem saber.

E lá tornou a deitar-se.


— Bem, que tal vão as coisas? — perguntou uma velha pata que veio visitá-la.

— Este ovo está a demorar um tempo horrível — disse a mãe pata. — Não há meio de estalar! Mas olhe para os outros! São os patinhos mais bonitos que já vi, tal e qual o pai, aquela peste, que nunca vem visitar-me!

— Deixe lá ver o ovo — disse a velha pata. — Ah! Acredite no que lhe digo, isso é um ovo de peru. Uma vez aconteceu-me a mesma coisa e nem calcula o trabalho que tive com os miúdos! Como eram perus, tinham medo da água, e não consegui metê-los lá. Deixe ver. É, é um ovo de peru. Deixe-o ficar e vá ensinar os outros a nadar.

— Bem, vou aguentar um pouco mais — respondeu a pata. — Já aqui estou há tanto tempo que mais vale acabar o trabalho.

— Está bem, faça como quiser — respondeu a velha pata, e foi-se embora.

Por fim, o grande ovo estalou.

—Pip, pip! — disse o jovem, saindo cá para fora.

Mas que grande e que feio que ele era! A mãe olhou para ele.

— Que grande patinho! — pensou. — Será mesmo um peru? Bem, já vamos ver; há-de ir para a água, nem que eu tenha de o empurrar.

No dia seguinte, o tempo estava lindo, e a mãe pata saiu com todos os filhos e desceu até ao fosso, onde mergulhou.

— Quac, quac! — chamou ela.

E, um atrás do outro, os patinhos saltaram para a água. Ficaram com as cabeças debaixo de água, mas vieram logo à tona, e em breve nadavam afanosamente. As suas patinhas mexiam-se naturalmente, e lá estavam todos — até o feio cinzento nadava com os outros.

— Não, isto não é um peru! — exclamou a mãe. — Que bem que ele usa as patas e que direito que nada. É meu filho, isso não há dúvida. Realmente, é bem bonito, se virmos bem. Quac, quac! Venham comigo, meninos; venham conhecer o mundo e as outras aves da quinta; mas fiquem perto de mim, para ninguém os pisar. E cuidado com o gato!


E lá foram para o pátio da quinta. Aí havia um barulho horrível e grande agitação, porque duas famílias discutiam por causa da cabeça de uma enguia — e afinal quem a apanhou foi o gato.

— O mundo é assim — disse a mãe pata.

Ficou com água no bico, porque também ela teria gostado de apanhar a cabeça da enguia.

— Vá, usem as pernas; despachem-se e façam uma vénia à velha pata que está ali! E a pessoa mais importante da quinta; os antepassados dela vieram da Espanha e, como vêem, tem um pedacinho de pano vermelho atado a uma pata. Isso é uma coisa muito especial: significa que ninguém a pode matar e que tanto os homens como os animais têm de a tratar com respeito. Venham! Não metam os pés para dentro! Um patinho bem educado anda com os pés bem afastados, como o pai e a mãe. Vá! Façam uma vénia e digam: «Quac!».

Os patinhos fizeram o que ela lhes disse, mas os outros patos do pátio olharam para eles e disseram em voz alta:

— Lá vamos ter de aturar estes, como se já não fôssemos bastantes! E, meu Deus!, que patinho tão esquisito aquele! Não o queremos com certeza por aqui.

E um pato esvoaçou em direcção ao patinho cinzento e deu-lhe uma bicada no pescoço.

— Deixa-o em paz — disse a mãe. — Ele não está a incomodar ninguém.

— Pois não, mas é muito grande e tem um ar esquisito — respondeu o pato que o tinha bicado. —Tem de ser metido na ordem.

— Bela família — comentou a velha pata com o paninho vermelho à volta da perna. — Os patinhos são todos bonitos, excepto aquele, não pode ser. Se ao menos a mãe pudesse tornar a fazê-lo!

— Isso é impossível, Vossa Senhoria — disse a mãe pata. — É verdade que não é bonito, mas tem bom feitio e nada tão bem como os outros. Atrevo-me até a dizer que, quando for crescido, é capaz de vir a ser mais bonito e talvez, com o tempo, um pouco mais pequeno. Ficou tempo de mais dentro do ovo e foi isso que lhe estragou o aspecto. — Ajeitou-lhe a penugem do pescoço e alisou-lhe uma penita ou outra. — Além disso — acrescentou —, é um pato, por isso não tem muita importância se é bonito ou feio. É saudável, tenho a certeza, e há-de vingar neste mundo.

— Seja como for, os outros patinhos são encantadores — retorquiu a velha pata. — Bom, estejam à vontade, e se encontrarem uma cabeça de enguia podem trazer-ma.

Isto foi o primeiro dia; depois, a sina do patinho cinzento piorou. Que infeliz se sentia por ser tão feio! Era perseguido por todos. Os patos tentavam dar-lhe bicadas; as galinhas também; e a rapariga que dava de comer aos animais empurrava-o com o pé. Até os irmãos e as irmãs estavam contra ele e diziam:

— Feio! Era bem feito que o gato te apanhasse!

A mãe também dizia em voz baixa:

— Quem me dera que estivesses longe...


Recorte em papel feito por Hans Christian Andersen

Recorte em papel feito por Hans Christian Andersen
Fonte: Museus da Cidade de Odense

E então ele foi-se embora. Primeiro, voou por cima da sebe — e os passarinhos nos arbustos voaram alarmados.

«É por eu ser tão feio», pensou o patinho, fechando os olhos.

Mas continuou o seu caminho. Por fim, chegou aos charcos onde vivem os patos bravos e ficou lá deitado toda a noite, porque estava muito cansado e triste.

De manhã, os patos bravos apareceram e observaram o seu novo companheiro.

— Que espécie de criatura és tu? — perguntaram.

O patinho virou-se para cada um e cumprimentou-os o mais amavelmente que pôde.

— És mesmo feio, lá isso és! — disse um pato bravo. — Mas isso pouco importa, desde que não cases com nenhuma das nossas filhas.

Pobrezinho do patinho. A ideia de casar nem sequer lhe tinha vindo à cabeça. Tudo o que queria era deitar-se e descansar nos juncos e beber um pouco da água do charco.

Ali ficou durante dois dias, até que apareceram dois gansos selvagens — dois jovens machos. Também tinham nascido há pouco, mas eram muito vivos e descarados.

— Olá, amigo — disseram. — És tão feio que gostamos de ti. Que tal vires connosco quando voarmos para mais longe? Num charco perto daqui há umas lindas gansas, belas raparigas, com um «quac!» que vale a pena ouvir. Com o teu aspecto esquisito pode ser que tenhas sorte com elas.

Nesse momento ouviu-se «bang!, bang!» e ambos os alegres gansos caíram mortos nos juncos. A água ficou vermelha de sangue. Outra vez «bang!, bang!» — e um bando de gansos selvagens levantou voo dos juncos. Era uma grande caçada. Os desportistas estavam a toda a volta do charco; alguns estavam mesmo empoleirados nas árvores. Fumo azul subia como nuvens dentro e fora dos ramos escuros e ficava a pairar sobre a água. Os cães faziam tchac!, tchac!, pela lama, esmagando os juncos. O pobre patinho estava aterrorizado; quando tentava precisamente esconder a cabeça debaixo da asa um cão enorme e assustador parou em frente dele com a língua de fora e os olhos a brilharem de uma maneira horrível. Encostou o focinho ao patinho, arreganhou os dentes aguçados e depois — tchac!, foi-se embora sem lhe tocar.

— Oh, graças a Deus! — suspirou o patinho. — Sou tão feio que até o cão pensa duas vezes antes de me morder. E ficou muito quieto enquanto ouvia os tiros, um após outro, guincharem e troarem pelos juncos. O dia já ia longo quando o barulho parou; mas a pobre criatura nem então se atreveu a mexer-se. Por fim, levantou a cabeça, espreitou cautelosamente em redor e apressou-se a fugir do charco tão depressa quanto pôde. Correu por campos e prados, mas o vento soprava tão forte contra ele que era difícil avançar.


Perto da noite, chegou a um casinhoto miserável; estava em tal estado que nem sabia para que lado havia de cair, de modo que continuava de pé. O vento soprava com tanta força que o patinho teve de se sentar para não ser levado por ele, mas o vento parecia ficar cada vez mais forte. Então notou que a porta já não tinha uma dobradiça e estava pendurada de tal modo que ele conseguia esgueirar-se lá para dentro, e foi isso mesmo que fez.

No casinhoto vivia uma velhota com um gato e uma galinha. O gato, a quem ela chamava Filhinho, sabia arquear as costas e fazer ronrom; também fazia faíscas, mas só quando lhe faziam festas ao contrário. A galinha tinha umas pernitas curtas e por isso chamava-se Pinta-Pernas-Curtas. Punha muitos ovos, e a velhota gostava dela como se fosse sua filha.

Quando amanheceu, repararam logo no estranho pequeno visitante. O gato começou a fazer ronrom, e a galinha a cacarejar.

— O que é que aconteceu? — perguntou a velhota, olhando a toda a volta.

Mas já não via muito bem, de modo que tomou o pequeno recém-chegado por uma pata adulta.

— Ora isto é que é sorte! — exclamou ela. — Agora vou ter ovos de pata... desde que não seja um pato. Bem, veremos...

E o patinho ficou à experiência durante três semanas, mas não apareceram ovos.

O gato era o senhor da casa, e a galinha a senhora. Passavam a vida a dizer «Nós e o mundo...», porque pensavam que eram metade do mundo e, claro, a metade melhor. O patinho achava que podia haver outras opiniões sobre o assunto, mas a galinha não queria ouvir falar nisso.

— Sabes pôr ovos? — perguntou. — Não? Então, faz o favor de guardar as tuas opiniões para ti próprio!

O gato perguntou:

— Sabes arquear as costas e fazer ronrom ou soltar faíscas? Não? Então o melhor que tens a fazer é ficares calado quando as pessoas sensatas estão a falar.

De maneira que o patinho se sentava a um canto e aborrecia-se. Vinham-lhe à ideia pensamentos sobre o ar livre e o sol, e depois uma saudade extraordinária de flutuar na água. Por fim, não pôde deixar de falar nisso à galinha.

— Que ideia tão disparatada! — exclamou ela. — O teu mal é não teres nada que fazer; por isso é que tens essas fantasias. Põe mas é uns ovos ou tenta fazer ronrom que isso passa-te.

— Mas é tão delicioso flutuar na água — disse o patinho. — É tão bom baixar a cabeça e mergulhar até ao fundo!

Deve ser óptimo! — disse a galinha sarcasticamente. — Não deves estar bom da cabeça! Pergunta ao gato, que é a pessoa mais inteligente que conheço, se ele gosta de flutuar na água ou de mergulhar até ao fundo. Não faças caso da minha opinião; pergunta à nossa dona, a velhota: não há ninguém mais sábio no mundo inteiro. Achas que ela quer flutuar ou meter a cabeça dentro de água?

— Não compreendes... — disse o patinho tristemente.

— Bem, se nós não te compreendemos, ninguém compreenderá. Nunca saberás tanto como o gato ou a velhota, para já não falar de mim. Não tenhas peneiras, miúdo, e agradece as coisas boas que te têm acontecido. Não encontraste um quarto quente e companheiros elegantes, com quem podes aprender muito se prestares atenção? Mas tu só dizes disparates; nem sequer és uma companhia alegre. Acredita que o que te digo é para teu bem. Vá, faz um esforço e põe uns ovos ou, pelo menos, aprende a fazer ronrom e a deitar faíscas.

— Acho que o melhor é ir por esse mundo fora — respondeu o patinho.

— Então vai — exclamou a galinha.


E o patinho lá foi. Boiou na água e mergulhou; mas parecia-lhe que os outros patos não faziam caso dele por ele ser feio.

Até que chegou o Outono: as folhas do bosque ficaram castanhas e amarelas; o vento apanhava-as e fazia-as rodopiar como loucas; até o céu parecia gelado; as nuvens pairavam, pesadas com granizo e neve, e o corvo, empoleirado numa sebe, gritava «crá, crá» por causa do frio. Só de olhar para aquilo ficava-se logo a tremer. Foi um tempo difícil também para o patinho.

Uma tarde, com o céu avermelhado pelo pôr do Sol, um bando de grandes aves maravilhosas ergueu-se dos juncos. O patinho nunca tinha visto aves tão belas. Eram de um branco brilhante, com longos pescoços graciosos — na verdade, eram cisnes. Emitindo um estranho som, abriram as esplêndidas asas e voaram para longe, para terras mais quentes e lagos que não gelavam. Voaram até bem alto e o patinho feio ficou muito excitado; andava à roda, à roda, na água, e chamou-os com uma voz tão alta e estranha que até ele próprio se assustou. Oh, nunca esqueceria aquelas aves maravilhosas, aquelas aves felizes! Assim que a última desapareceu, mergulhou mesmo até ao fundo e, quando voltou de novo à superfície, estava excitadíssimo. Não sabia como se chamavam as aves; não sabia de onde tinham vindo nem para onde voavam — mas sentia-se mais atraído por elas do que por qualquer outra coisa.

No Inverno ficou ainda mais frio. O patinho tinha de nadar às voltas na água para esta não gelar, mas cada noite a parte sem gelo se tornava mais pequena. Depois, tinha de bater com os pés a toda a hora, para quebrar a superfície; por fim, acabou por ficar estafado. Parou e depressa gelou completamente.


De manhã cedo apareceu um camponês. Vendo a ave, foi até lá, partiu o gelo com os socos de madeira e levou-a para casa, para a mulher. Pouco tempo depois, o patinho reanimou-se. As crianças queriam brincar com ele, mas ele julgava que queriam fazer-lhe mal e, assustado, voou para dentro da selha do leite. O leite salpicou a sala toda; a mulher deu um grito e deitou as mãos à cabeça; depois, o patinho voou para dentro da cuba da manteiga, depois para o barril da farinha, e depois saiu. Meu Deus, que espectáculo! A mulher, ainda aos gritos, atirou-lhe o atiçador da lareira; as crianças, rindo e guinchando, caíam umas por cima das outras, tentando apanhar o patinho. Felizmente, a porta estava aberta; lá foi ele a correr para os arbustos e para a neve recém-caída e aí ficou meio entontecido.

Mas seria demasiado triste contar-vos todas as dificuldades e infelicidades por que ele teve de passar durante aquele Inverno cruel. Um dia, estava a tentar aconchegar-se entre os juncos do charco quando o Sol começou a enviar novamente raios quentes; as cotovias cantavam; que maravilha! Tinha chegado a Primavera. O patinho ergueu as asas. Pareciam mais fortes do que antes, e levaram-no velozmente para longe; antes de perceber o que estava a acontecer, encontrou-se num lindo jardim cheio de macieiras em flor, com lilases perfumados que pendiam dos seus longos ramos mesmo até um riacho sinuoso. E então, mesmo em frente dele, saindo das sombras das folhas, apareceram três magníficos cisnes brancos, agitando as penas enquanto deslizavam pela água. O patinho reconheceu as maravilhosas aves e sentiu uma estranha tristeza.

— Vou voar até àquelas nobres aves, mesmo que me matem à bicada por me atrever a aproximar-me, feio como sou. Mas não me importo... é melhor ser morto por umas criaturas tão esplêndidas do que apanhar bicadas de patos e galinhas e pontapés da rapariga da quinta ou ter de aguentar outro Inverno como o último.


Voou para a água e nadou em direcção aos magníficos cisnes. Estes viram-no e vieram ter com ele a toda a velocidade, agitando a plumagem.

—Vá, matem-me — disse o pobre patinho curvando a cabeça mesmo até à água enquanto esperava pelo fim.

Mas o que é que viu ele reflectido em baixo? Observou-se bem — já não era uma desajeitada ave feia e cinzenta. Era igual às orgulhosas aves brancas ali ao pé: era um cisne!

Não interessa nascer num terreiro de patos quando se sai de um ovo de cisne.

Sentiu-se feliz por ter sofrido tantas dificuldades, porque agora dava valor à sua boa sorte e ao lar que finalmente tinha encontrado. Os majestosos cisnes nadaram à sua volta e acariciaram-no com admiração com os bicos. Umas criancinhas apareceram no jardim e atiraram pão para a água e a mais pequenina gritou alegremente:

— Há mais um!

E as outras disseram, encantadas:

— E verdade, apareceu mais um cisne!

Bateram palmas e dançaram de contentamento; depois foram a correr contar aos pais. Deitaram mais pão e bolo para a água e todos disseram:

— O novo é o mais bonito de todos. Olhem que belo que é, aquele novo!

E os cisnes mais velhos curvaram as cabeças diante dele.

Ele sentia-se muito envergonhado e escondeu a cabeça debaixo de uma asa; não sabia o que fazer. Estava quase feliz de mais, porque um bom coração nunca é orgulhoso nem vaidoso. Lembrava-se dos tempos em que tinha sido perseguido e desprezado, e agora ouvia toda a gente dizer que era a mais bela de todas aquelas maravilhosas aves brancas. Os lilases curvaram os ramos até à água para o saudarem; o Sol enviou o seu calor amigo, e a jovem ave, com o coração cheio de alegria, agitou as penas, ergueu o pescoço esguio e exclamou:

— Nunca pensei que alguma vez pudesse sentir tamanha felicidade quando era o patinho feio!

Hans Christian Andersen 

Texto recolhido em http://guida.querido.net

 

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Terça-feira, 02.02.10

Capa do Livro que vem sendo citado nestas cartas aos meus Netos

                        Meus queridos netos:
                        Vamos lá então de viagem a Setúbal: depois de meia hora de carruagem para vir da Quinta dos Pinheiros até Lisboa, seguiu-se, durante quase uma hora, a travessia num vapor superlotado para apanhar o caminho-de -ferro. Na estação de Setúbal, esperava-os a carruagem de Jorge O’Neill que, por caminhos rudimentares mas rodeados por frondosas árvores, os levou à Quinta dos Bonecos, assim chamada por causa d’”As muitas estatuetas, bustos e vasos que ornam a casa e os terraplenos dos jardins”. Ao contrário do que se poderia pensar, estava “um calor espantoso”, muito mais agressivo do que o da Quinta dos Pinheiros. Todas as janelas e portas estavam fechadas durante o dia e a casa completamente mergulhada na penumbra. “De dia, só se podia andar cá fora sob a sombra das árvores de espessa folhagem ou, se se queria ir a qualquer parte onde incidia o sol, havia que caminhar vagarosamente e a coberto dum guarda-sol branco. De manhã e a noitinha era, porém, um prazer passear com o ar calmo e fresco. Sentia uma paz, uma tranquilidade que desejaria comunicar a todos os homens”.
                            Mas nem Andersen nem a família O’Neill eram pessoas para se quedarem nesse doce torpor. Visitaram, na vizinhança, o convento trapista de Brancanes, abandonado desde a expulsão dos frades pelos liberais, mas com uma mostra de belos azulejos e uma vista deslumbrante. Andersen foi, também, a cavalo, com o filho de Jorge O’Neill, até ao castelo de Palmela e, apesar do “frio invernal”, ficaram extasiados com o panorama que puderam apreciar das muralhas: “Em frente, as matas de sobreiros descem para o rio Tejo, na margem oposta Lisboa brilhava ao sol poente e a serra de Sintra recortava-se no céu azul. Não era fácil desprendermo-nos desta visão, mas a noite ia caindo, tínhamos de regressar”. Uma outra excursão, esta feita de burro, levou os dois amigos à serra de S. Luís. Foi uma aventura inolvidável, pisando o mato bravio e com as pedras a rolarem sob as patas do burro que Carlos O’Neill, de espingarda de caça a tiracolo, tinha de puxar pela rédea. Mas valeu a pena: “Nuvens solitárias pairavam, carregadas, sobre a serra da Arrábida, lançando sombras em baixo, no vale fundo. Quanto mais alto subíamos, mais alto se elevava no horizonte o vasto mar. Toda a natureza era de uma gravidade, de uma tranquilidade imperturbada por qualquer árvore. Como antes da Criação”. O regresso não foi feito na companhia de Carlos que se afastara para caçar, mas na dum outro jovem caçador que surpreendera a repousar junto dum tanque e de que faz um delicado e romântico retrato.
                        Em Setúbal, assiste a uma festa de Santo António com a cidade toda iluminada por fogueiras, moças e moços dançando em volta do lume, foguetes lançados de toda a parte, pequenos altares em honra do santo, “um grande cortejo de gente do mar, cantando e tocando flautas e tambores”. Foi a grande custo e não sem algum perigo, que a carruagem ultrapassou aquela confusão, passando sobre as fogueiras sem que se registasse um temido acidente. Andersen descreve, com muito humor, essa festa popular e também, com admiração, a cidade de Setúbal: refere a Praça de Bocage e a homenagem que a cidade está a preparar ao poeta, erguendo, por subscrição pública um monumento em sua memória e descreve a Igreja de Jesus “pequena igreja das mais belas que até agora vi”, realçando os azulejos e duas pinturas de Grão Vasco que, diz ele: “me fizeram recordar Holbein, na cor e no desenho”. Depois afirma: “Setúbal é mais bela vista da baía”, onde nota grande número de barcos de recreio e de pesca, num dos quais faz, com Carlos O’ Neill e a família um belo passeio que lhes permitiu apreciar a cidade e toda a costa, incluindo a serra da Arrábida e terminando com a visita às ruínas de Tróia.
                        Outro momento de descontracção foi a tourada a que assistiu, nas festas de S. Pedro e que conta com pormenores saborosos, dizendo, logo de entrada: “Todo o barbárico e sanguinário que uma tourada apresenta em Espanha foi eliminado com as alterações introduzidas desde o tempo de D. Pedro “, como, por exemplo, os chifres embolados. A parte que mais aprecia são as pegas, onde os moços do campo exibiam a sua destreza.
                        O parágrafo referente à despedida de Setúbal é o melhor testemunho da sua sensibilidade e do afecto que desde o princípio o ligara a Portugal: “Num dos primeiros dias da minha estada na Quinta dos Bonecos plantei diante da casa, quase junto à palmeira grande, um pequeno abeto nórdico. Quando crescer, o vento norte, ao abalá-lo com o seu sopro, aí deixará uma saudação da Escandinávia distante”.
                        De facto, com as cinco semanas passadas na Quinta do Pinheiro e o mês da Quinta dos Bonecos, estava a aproximar-se o termo da permanência do poeta em Portugal. Não queria partir, contudo, sem visitar Aveiro, Coimbra e Sintra, onde o acompanharemos na próxima carta.
                                               Beijinhos dos Vóvós
 
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