Nessa tarde, a Vóvó teve uma grande alegria: recebeu a visita do Zezinho e do Papá, que veio saber da saúde, bastante abalada, da sua mãe. O Zezinho já tinha ouvido falar do problema, mas como pouco mais tem do que quatro anos e meio, dele não guardava a menor lembrança.
Depois dos efusivos beijinhos e abraços da chegada, foram ambos para o quarto da Vóvó, inventando sonos cansados e muito curtos. Boa noite, bom dia, conforme passava o minuto marcado no temporizador que dava o sinal de despertar. Mas as pilhas acabaram e o Zezinho, que tem um computador com magias, para aprender os números, as letras, as formas, algumas palavras de Inglês e também para se entreter com os jogos e com a música, quis experimentar o computador da Vóvó, colocado numa secretária, mesmo aos pés da cama. Teve uma certa decepção, pois não encontrou nele as fantasias do seu.
Escreveu o seu nome, os números de um a vinte e, esgotados os reduzidos saberes, a Vóvó foi-lhe mostrar o seu blogue, ilustrado pelo Vôvô com gravuras que o encantaram até… Até que descobriu a cabeça dum sapo verde, de olhos muito arregalados, que se moviam em todas as direcções e logo ali foi baptizado, pelos dois, com o nome de SAPO PISCA-PISCA.
O Zezinho, encantado, soltava gritinhos de alegria cada vez que os olhos do sapo se viravam para uma ou outra direcção. Ao fim dum certo tempo, resolveu passear-se pelo blogue, dizendo:
- Olha, Vóvó, o sapo foi à rua e já volta.
- Então pergunta-lhe se, lá fora, está muito vento.
- Ó Sapo, apanhaste muito vento? – perguntou o Zezinho.
Entretanto a Vóvó, que se sentia cansada, deitou-se na cama ali ao lado, dizendo:
- Olha, Zezinho, a Vóvó tem de se deitar um bocadinho porque está doente.
- Outra vez? - perguntou, porque infelizmente já tinha ouvido idênticas queixas.
Voltou ao Sapo Pisca-Pisca, que teve de ir várias vezes à rua, até que, passado um bom bocado, deixou o computador e veio, suave como um anjo, segurar-lhe na mão, onde deixou um beijinho.
- Ai! Que beijinho tão bom! E por que é que me deste este beijinho?
- Agora já não estás doente. Foi para passar o dói-dói.
A Vóvó ficou comovida e a dizer de si para si:
- Que coisas lindas tem a vida!
Lisboa, 20 de Julho de 2010
Clementina Relvas