Meus queridos netos:
Nestas últimas semanas, toda a gente informada andou com o coração apertado, devido às convulsões sociais que abalaram o Egito, exigindo a renúncia do Presidente daquele País, Hosni Mubarak, e melhorias nas condições de vida para a maior parte dos oitenta milhões de pessoas, entre as quais uma grande percentagem de jovens, que, lá como em quase todo o Mundo, se vêem perante um futuro sem perspectivas.
Foram dezoito dias de manifestações, concentradas na Praça Tahir, no Cairo e também noutras cidades egípcias, até o Presidente ter abandonado o poder que detinha há cerca de trinta anos e de lhes terem feito muitas promessas, oxalá para serem cumpridas.
O mundo assistiu a quase tudo pela TV e Internet eu, ao ver a esfinge e as pirâmides de Gizé, não pude deixar de recordar a excursão que, no verão de 1987, fiz ao Egito com o Vôvô.
Fomos num avião da Alitalia (via Roma) até ao Cairo, uma cidade gigantesca mas com um trânsito caótico, que obrigava os automóveis, sempre a buzinar, a protegerem os faróis com uma grelha, para os proteger dos choques constantes.
A cidade é atravessada pelo rio Nilo, onde se viam inúmeros barcos, desde grandes paquetes até às típicas falucas e apresenta muitos motivos de interesse.
Nós ficámos instalados num moderno e confortável hotel, muito perto das pirâmides, que se viam perfeitamente das janelas do nosso quarto. Mas é claro que as fomos visitar e eu, com a minha curiosidade insaciável, fui a única do nosso grupo que trepou, por uma estreita passagem, até a uma câmara interior que se revelou uma deceção, pois apenas continha um túmulo de granito, sem tampa, que devia ter um remotíssimo passado. Impressionaram-me muito pela sua grandiosidade e também me detive na contemplação da esfinge, evocando antiquíssimas lendas.
Visitámos o Museu do Cairo, agora vítima de um incipiente saque, apesar de rigorosamente guardado por militares e civis e onde um infindo número de relíquias arqueológicas, entre as quais a pedra de Roseta, se amontoavam sem preocupações expositivas, o que nos deu a impressão dum imenso armazém de múmias. A exceção foi a câmara de Tutankamon, não só pela riqueza e arte que a singulariza, como por outros objectos de grande interesse resgatados do seu túmulo pelo arqueólogo francês Champollion.
Outro motivo de grande espanto foi a visita ao Grande Bazar, um verdadeiro mundo onde se vende de tudo, desde as tapeçarias e o ouro, até às perfumadas e coloridas especiarias, o que ali atrai multidões ruidosas e deslumbradas com tantas e tão variadas mercadorias expostas.
Depois de termos visitado o Cairo, fizemos um cruzeiro pelo Nilo, mas tantas foram as maravilhas que este nos desvendou que o seu relato fica para a próxima carta.
Não sem antes lamentar que a crise actual vede o acesso deste fabuloso país aos turistas de todo o mundo e o prive da sua principal fonte de riqueza.
Muitos beijinhos dos Vóvós e até breve.