(Para a Cristina, o Zezinho
e para os netos das outras Avós interessadas)
Era uma vez,
de verdade,
e não como nas histórias,
uma menina
nascida
para bem da Humanidade.
Tinha pai, S. Joaquim
e tinha por mãe
Sant’Ana
mas foi Deus quem destinou
dar-lhe, sob forma humana,
uma alma branca, branca…
Nenhum pecado a manchou.
Teve pai e teve mãe,
como nós, teve parentes:
a sua prima Isabel,
mãe de S. João Baptista
e outros, todos diferentes.
Era humilde, dedicada,
brilhava com santo brilho
e, cumpridora da Lei,
amava, acima de tudo
o Senhor, que a destinava
a ser a Mãe do Seu Filho.
Um dia, em que se empenhava
no trabalho habitual,
mandou-lhe Deus,
por Seu Anjo,
a mensagem capital
que nos ganharia os Céus.
O Anjo, S. Gabriel,
era assim que se chamava,
disse à menina: Maria,
foste escolhida por Deus
para seres Mãe do Seu filho».
E ela, que não entendia,
disse «Sim», sem hesitar:
«Eis a serva do Senhor,
que mais posso desejar?
cumprirei Sua vontade,
já que Deus assim o quis.
Por mim, vou continuar
a ser humilde e feliz
porque Deus se dignou
pôr em mim o Seu olhar.
Embora não compreenda
tão excelsa maravilha,
beijo a mão que me conduz».
E diz-lhe o Anjo: «Maria,
nunca existiu melhor filha.
Chama ao teu Filho Jesus».
E assim foi. Era preciso
um pai para dar o nome
perante os homens e a Lei,
quando nascesse o bebé.
E foi Seu pai adoptivo
um homem justo, José.
Para ser recenseado,
José, que era descendente
da casa do Rei David,
deslocou-se até Belém,
que estava cheia de gente.
E foi aí, num estábulo,
que nasceu o Rei dos Céus
e o mundo ficou contente.
Do Céu, os Anjos vieram
entoar os seus louvores
e também lá compareceram
as pastoras e os pastores
a adorá-Lo e a dedicar-Lhe
os seus presentes melhores:
cordeiros, queijos e mel
de bom grado os ofereceram.
Vieram, depois, os Magos,
homens sábios, experientes,
montados nos seus camelos
e trazendo outros presentes:
o ouro da realeza,
incenso da adoração
e a mirra, que anunciava
uma grande provação.
Havia, então, na Judeia,
onde o caso acontecia,
um rei, tirano e cruel
que o Menino perseguia.
Para ver se se livrava
de Jesus, o Deus Menino,
mandou matar todo aquele,
inocente e pequenino,
que a Jesus se assemelhava.
Mas veio um Anjo, do Céu,
- talvez o Anjo da Guarda,
minha e vossa companhia –
e revelou ao casal
o que Herodes pretendia.
S. José não hesitou:
serviu-se dum burriquito
para Maria montar
e fugiu para o Egipto,
onde ficou a morar.
Mas, quando Herodes morreu,
voltaram a Nazaré:
S. José, o seu Menino
e Maria, Sua Mãe.
Em uma carpintaria,
pertencente a S. José,
este voltou ao trabalho
e o Menino, ali ao pé,
o mesmo ofício aprendia.
Era um filho obediente,
mas um dia, com os Pais,
foi até Jerusalém
para a Páscoa celebrar.
Durante três longos dias
por todo o lado O buscaram,
aflitos, ansiosos,
e onde O foram encontrar?
Encontraram’O no Templo,
sentado entre os doutores,
que ouviam, extasiados,
procurando responder
às perguntas de Jesus.
Do Menino irradiavam
tantos, tantos esplendores
que já não era o Menino:
era uma fonte de Luz.
E Sua Mãe lamentou-se:
«Meu Filho, Tu não sabias que nós,
o Teu pai e eu andámos por todo o lado,
com o coração partido
por não Te termos guardado
e Te julgarmos perdido?»
Perdido eu, minha Mãe?
Como tal podia ser?
Era em casa de Meu Pai,
aqui, neste santo Templo,
que devíeis procurar,
porque de há muito sabeis
que é na casa de meu Pai
aqui, mesmo, o meu lugar».
Nossa Senhora calou-se.
Sorriu então S. José:
tinham achado o Menino,
ficara muito contente.
E, regressados a casa,
como outro qualquer menino,
bem educado e bondoso,
era-lhes obediente.
Viveu cerca de vinte anos
com Seus Pais, sempre afastado,
bem longe da multidão.
Quando o tempo foi chegado,
foi, por S. João Baptista,
baptizado no Jordão.
Seu Pai disse a todo o mundo:
«É este o meu Filho amado
em Quem pus o meu enlevo».
E foi enviado, então,
para vir, junto dos homens,
cumprir a Sua missão.
Deu vista aos cegos.
Aos coxos
restituiu o andar.
Perdoou muitos pecados
a quem se queria emendar.
Chamou à vida, de novo,
os que já tinham morrido
e foram ressuscitados.
Transformou a água em vinho
e um só pão em mais de mil,
para alimentar aqueles
que O tinham vindo a seguir.
Chamara doze discípulos
que, deixando quanto tinham,
apenas queriam servir.
Servir os necessitados,
propagar os mandamentos
que Jesus ia ensinando-
Falava-lhes por parábolas,
sabendo que era preciso
revelar, devagarinho
e de maneira acessível,
o que alguns julgavam fábulas.
Mas não. Era a Lei de Deus,
baseada no amor.
Ir em busca da ovelha
desgarrada do pastor,
ou da dracma perdida,
ou receber aquele filho
que voltava, arrependido,
para casa do seu pai,
ciente de que o perdão
lhe seria concedido.
E assim passaram os anos,
sempre praticando o Bem
e semeando esperanças.
Fez o Sermão da Montanha,
onde, sem nada esquecer,
pôs as Bem-Aventuranças.
Feliz de quem as seguir,
feliz, abendiçoado,
pois será esse o caminho
para evitar o pecado.
- «O pecado? – perguntais
para eu vos responder.
Em que consiste o pecado?»
- Sabendo como Ele nos ama,
fazer o mal, sem olharmos
ao que O fazemos sofrer.
Mas prossigamos a história,
esta história verdadeira
que vos estou a contar.
Queria dar-lhe um fim feliz,
mas depende da maneira
como a soubermos olhar.
Vendo a enorme projecção
alcançada por Jesus,
temiam que Ele desejasse
ser rei de toda a Nação.
Fingiram não perceber
que o desejo mais profundo
de Jesus era fazer
a vontade de Seu Pai
e n’Ele salvar o mundo.
Mas como havia de ser?
Durante a Última Ceia,
na véspera de morrer,
tomou o pão e benzeu-o.
Disse: «Comei este Pão,
este Pão que é o meu Corpo
e a vossa salvação».
A seguir, pegou no Cálice,
no vinho que ele continha
e abençoou-o, dizendo:
«Este Vinho é o meu Sangue.
Tomai e bebei d’Ele todos,
fazei-o em minha memória,
pois só beberei de novo,
convosco, na eterna Glória».
Que mais podia fazer
um tão grande Coração
do que, todo, se oferecer
a cada povo e nação?
Mas, para participar
em tão nobre Sacramento
que chamamos Comunhão
é preciso confessar,
com fundo arrependimento,
as culpas que nos mancharam,
pouco a pouco, o coração.
Confessar ao sacerdote
que está em lugar de Deus
e nos pode perdoar
as faltas que cometemos
e deixar-nos comungar,
cada vez que o desejemos.
Esta é a Graça maior
de quantas nos deu Jesus.
Custou-Lhe infinita dor
por Sua morte, na Cruz.
Por Judas, Seu seguidor
e pela sua traição,
foi preso, manietado.
Fizeram-Lhe padecer
muitos tormentos e dor
e escarneciam d’Ele
sem a menor compaixão,
sem o mínimo temor.
Condenaram-n’O a morrer
da morte mais desonrosa:
ser pregado numa cruz
no meio de dois ladrões,
gente má e criminosa.
Mas um deles arrependeu-se,
pediu o Céu a Jesus,
que atendeu o seu pedido.
E mais, perdoou a todos,
os que O tinham ofendido.
Porque sempre foi de amor
e perdão, Sua mensagem,
pediu ao Pai: «Perdoai-lhes,
que não sabem o que fazem».
Teve sede e bebeu fel,
suou sangue, dor atroz,
que morte injusta e cruel!
Entregou nas mãos do Pai
Seu espírito liberto
e morreu por nosso amor,
ficando de nós mais perto.
Junto à Cruz, em agonia
por Seu Filho, que morrera,
estava a Virgem Maria,
João, discípulo dilecto
e algumas santas mulheres.
Quanto aos outros, que O seguiam,
ficaram de longe, a ver,
escondendo o seu afecto
dos que os podiam prender.
(E aquelas santas mulheres
mais haviam de fazer).
Quando O desceram da Cruz,
todo chagado e exangue,
foi para o colo da Mãe,
que Lhe enxugou o Seu sangue.
Depois houve um santo homem,
natural de Arimateia
e de seu nome José,
que O levou para um sepulcro
construído ali ao pé.
O túmulo ficou cerrado
com uma pedra inamovível,
guardado por sentinelas,
sem haver fuga possível.
Tendo passado três dias
e quando as santas mulheres
vieram para O ungir
com os perfumes rituais
e se chegaram mais perto,
não acharam nem sinais
de Jesus e, admiradas,
viram o túmulo aberto.
Correram, alvoroçadas,
para avisar os discípulos
que, não querendo acreditar,
foram ver com os seus olhos:
só lá estava o lugar
e as faixas que O envolviam,
com a forma do Seu corpo.
Que era feito de Jesus?
Toda a gente O vira morto…
Reviravolta na história
que tenho vindo a contar:
Jesus fora para o Pai.
Vencera a dor e a morte
e no Céu, ressuscitado,
reserva a todos a sorte
de se sentar a Seu lado,
desde que sejam fiéis
que não cometam pecado.
Mas até os Seus discípulos,
que O deviam conhecer,
não queriam acreditar
no que não podiam ver.
E foi então, com amor,
decidido por Jesus
ir-Se encontrar com dois homens
no caminho de Emaús.
Meteu conversa com eles,
abrasou seu coração,
partilhou a sua mesa
mas só O reconheceram
ao vê-Lo partir o pão.
Uma vez reconhecido,
Jesus voltou para o Céu
mas nunca nos deixou sós:
mandou, como prometera,
Seu Espírito, o Paráclito,
para estar junto de nós.
E assim, o Consolador,
presente em nosso baptismo,
é o nosso Redentor,
e está sempre a nosso lado,
a afastar-nos do abismo.
Porque é Ele que em nós apaga
o pecado original
e, presente em nossa vida,
livra-nos de todo o mal.
É este o final feliz
desta história verdadeira
que eu escrevi para vós
e em que pus toda a vontade.
Quero louvar o Deus Pai,
louvar Jesus, o Deus Filho
e o Deus Espírito Santo
que, sendo três, são um só,
a Santíssima Trindade.
É difícil de entender
mas Deus é tão grandioso
e nós somos tão pequenos
que não podemos medi-Lo
pelos critérios terrenos.
Há mistérios insondáveis
no pensamento de Deus.
Se não forem alcançáveis
por nosso pobre saber,
confiemos no Senhor
sempre pronto a nos valer.
Aqui termina esta história
e peço a vossa atenção
a tudo o que fica dito.
Mais vos podia dizer,
mas aqui vos deixo escrito
e vos quero prometer
que, a tudo o que perguntarem
procurarei responder
com a ajuda de Jesus:
o grande herói desta história
e fonte de toda a Luz.
Clementina Relvas