Trinta anos, semita, tisnado pelo sol
e pelo vento do deserto,
mas sempre o mesmo compassivo olhar,
procurando, no íntimo do homem,
mesmo no pecador,
o ensejo de tudo perdoar.
Era assim que eu Te via,
ó meu Jesus, e não como este Cristo
que hoje vi,
pendente duma Cruz
por nosso amor
e que me fez sentir mais próximo de Ti,
talvez por ir levar-Te a minha dor.
Eu nunca imaginei como seria
a verdadeira face do meu Deus,
do meu Deus feito homem,
devastada por todos os tormentos,
que na hora da morte nos consomem.
Vi-a, hoje, no bronze do artista
que olhou muito mais fundo
e que sentiu
a agonia mortal
pelos pecados
que vira neste mundo.
E foi então que ouvi alguém dizer:
«Como é feio este Cristo!»!
Feio Tu, que na hora da agonia,
só sofrias por nós,
homens de cerviz dura,
que nem a Tua morte redimia!
Tu ias para o Pai, chegara a Hora,
mas sofreste por nós toda a espécie de dor.
«Pai, porque me abandonaste?»
Eis o momento
que o artista captou,
pondo no bronze,
seu coração dorido
e todo o seu amor.
Clementina Relvas