Vai-se a vida com os dias:
devagar ou tão depressa
que mal a gente começa
já a vida,
lentamente,
se dessora
como a hora
na ampulheta.
Onde a areia
principia…
está só meia…
É já vazia!
Clementina Relvas
Vai-se a vida com os dias:
devagar ou tão depressa
que mal a gente começa
já a vida,
lentamente,
se dessora
como a hora
na ampulheta.
Onde a areia
principia…
está só meia…
É já vazia!
Clementina Relvas
Presépio artesanal, em tecido, feito no Brasil | |
Natal é quando Tu chegas, | |
ó meu Menino Jesus. | |
Não no dia vinte e cinco, | |
todo enfeitado de luz, | |
(se não for a Tua Luz), | |
mas sempre que estás connosco, | |
na nossa alegria e dor, | |
dando cor à nossa vida, | |
paz a todo o sofredor. | |
Que seja sempre Natal | |
na minha alma que Te ofereço: | |
livra-a de todo o pecado, | |
faz dela a Tua morada, | |
favor gratuito e sem preço. | |
É Natal! Glória a Deus! | |
que, incarnando em Jesus, | |
ficou mais perto de nós | |
e fez de nós filhos Seus. | |
Clementina Relvas | |
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Era Noite de Natal.
Devia desconfiar
como era raro, anormal,
no meio de tanta festa,
ver um menino sozinho,
abandonado, a chorar.
Comovi-me, aproximei-me
e quis saber a razão
deste abandono tão grande,
desta profunda indiferença
que tolhia a multidão.
Disse-me então o menino
do fundo da sua dor:
«Não viste aquele drogado,
que a ganância destruiu?
Que triste e novo pecado…
Não viste a poluição
sem poupar rio nem flor,
e a manipulação
com que o homem se entretém
a fazer de Criador?»
Espantado e aflito,
dirigi-me a ele:
-Senhor, eu bem vejo que sois Vós
o Menino hoje nascido,
que depois morreu por nós.
«Que mundo injusto e brutal,
com tanta desigualdade
e desamor que aí vai.
E tantos novos pecados
a ofender o meu Pai!»
Então caí de joelhos,
ergui os olhos aos Céus,
fiz uma festa ao Menino
e pedi perdão a Deus
pelo nosso desatino.
Todos os sinos soaram,
ouviu-se de monte a vale:
«Glória a Deus, lá nas alturas!».
Todos os homens choraram
tantas e tais desventuras…
E então é que foi Natal!
Lisboa, Natal de 2008
Clementina Relvas
Nota: Publicado no Jornal “Calhariz Jovem”
Tocam os sinos! Aleluia!
Sob a alegria do Natal,
ouvem-se prantos, desencantos.
a música do Mal.
A fome, a guerra, tanta treva
onde apenas devia haver concórdia…
num mundo feito para sermos irmãos,
veio o pecado semear a discórdia.
Mas, no meio de tanta crueldade,
um sinal nos foi dado:
foi-nos dado Jesus.
Passou fazendo o Bem
e semeou nas trevas muitos pontos de luz.
Abriu o coração da Igreja
para o amor caridade,
sempre pronta a acolher os desvalidos
e alargou esse amor aos que, com ela,
doam a sua vida aos mais desprotegidos.
E fez mais: sem abrir exceções
a todos acolheu, serviu de exemplo,
e os pontos de luz multiplicaram-se
nos corações mais sensíveis e atentos
e as trevas, assustaram-se.
NATAL 2014
Clementina Relvas
Senhor, fazei que eu seja
aquela luz, humilde mas constante,
a pequenina luz,
junto ao Vosso Sacrário,
que não fraqueja nem um só instante.
Que nunca se me acabe, ó meu Senhor,
o azeite da minha adoração
por Vós.
E que por Vossa graça
eu ilumine tudo em meu redor,
procurando que com a minha luz
não deixe sentir sós
os que, fiéis, buscam o Vosso amor.
Eu sei que, na aparência da humildade,
não tem medida o que agora Vos peço:
Graça maior que estar ao Vosso lado
não tem comparação e não tem preço.
Por isso, ó Deus do infinito amor,
ouvi minha alma, sempre, sempre a rezar,
sem que, por um momento, desfaleça.
Para que, ao fim deste agreste caminho,
possa olhar Vosso rosto e nele me reconheça.
Nele reconheça a humilde centelha
de Vós em mim, Senhor,
desde que me criastes,
e que, apesar das minhas muitas faltas
sempre, como meu Pai, me perdoastes
por Vosso amor.
NATAL 2014
Clementina Relvas
Os versos que eu escrevo
não são meus.
Donde vêm não sei,
nem porque são.
Fazem parte de mim,
são minha carne e sangue,
minha razão
e sem razão.
E são também de todos os que os lerem
- se alguém um dia os ler –
pois só então
dirão
o que lhes cabe responder
a cada pessoal
e única questão.
Eles falarão de amor
a quem amor procura,
desvendarão o sonho
ao que queira sonhar
falarão de bondade
e de ternura a quem a quer achar.
E ficarão calados,
versos mudos
para quem
não soube interrogar.
Falarão de tristeza
e de ansiedade
mas de ódio não
nem de rancor.
Serão versos calados,
versos mudos
p’ra quem os interrogue
sem amor
Clementina Relvas
QUE O MEU CORAÇÃO SEJA O PRESÉPIO
Sabeis, Senhor: meu coração está ferido.
Falta o meu filho que partiu para Vós.
Mas não me quero triste, amargurada
porque nem ele nem eu ficámos sós.
Vós sois a ponte que permite, aos dois,
encontrarmos, nas minhas orações,
o Salvador que vem ao nosso encontro
purificar os nossos corações
e neles construirmos o presépio
onde, com S. José e Vossa Mãe,
Vós sereis o Messias, adorado
por anjos e pastores… por nós também.
O presépio será uma nuvem de luz,
brilhando sobre todo o Universo:
dará paz às pessoas e nações
e perfeição a quanto for perverso.
As nossas próprias culpas e pecados,
redimidos por Vós, transfigurados,
serão mirra, serão incenso e ouro:
e nós os Vossos filhos muito amados.
Meu coração, já sem ferida nem mágoa
cantará, sem cessar, Vossos louvores.
E andará sobre espinhos sem dar conta
que, no presépio, os mudastes em flores.
Lisboa, Natal de 2014
Clementina Relvas
JUNTO DE DEUS
súplica de teus Pais
Eram, então, os teus últimos dias.
E eu senti, vindas do fundo do meu coração,
as palavras inspiradas por Deus,
cheias de amor , cheias de compaixão.
Partiste. E só Deus conhece o teu percurso.
Eu sei que foi penoso, atribulado,
sempre à Sua procura, na esperança
de encontrar Sua Luz e de seres perdoado.
Eras meigo, eras bom, procuravas nos pobres
a imagem de Deus e a tua redenção.
Sofreste sem revolta, aceitaste a vontade
de Quem te deu a vida e, acredito,
te estendeu a mão,
quando voltaste para a Casa do Pai,
em busca de ternura e de perdão.
Intercede por nós Junto de Deus,
pede que nos perdoe e escute as nossas preces
porque, apesar de sermos pecadores,
deu a vida por nós e nunca nos esquece.
Lisboa, 24 de Outubro de 2009
Clementina Relvas
Quando o Senhor me chamar para Si,
seja o meu companheiro, o bom Pastor
me conduza a lugares de águas tranquilas
e a verdes prados, fruto do Seu amor
Que me afaste dos vales tristes e escuros,
onde às vezes passei, por meu pecado.
Não me deixe ter medo de cair,
Ele que é minha vara e meu cajado.
Para além desta terra e dos horrores
que transformam em guerra a paz fraterna,
outra vida começa, esplendorosa,
que jamais terá fim, a vida eterna.
E pela porta estreita, em Tua graça,
perdoados meus erros, passarei.
E com a minha taça a transbordar
de amor por Ti, Contigo morarei.
Sim, será essa a morada escolhida
por Ti que és o meu guia e o meu pastor
para eu descansar, terminada esta vida,
em verdes prados, reino do Teu amor,
Clementina Relvas
Que somos nós sem Vós senão só ossos,
nas nossas sepulturas de pecados,
longe da nossa terra, de Israel,
se não formos por Vós ressuscitados?
Renovai-nos na água do Batismo,
mandai tirar as pedras que nos tolhem
e, ao infundir em nós o Vosso espírito,
contai-nos sempre entre os que Vos acolhem,
os que crêem em Vós, que Vos escutam,
e assim não morrerão: terão a vida,
verão a Vossa Luz que a sentinela
aguardava, ansiosa e destemida.
Diremos como Marta:”Creio em Vós,
Filho de Deus, que havia de chegar
a este mundo” , e ao morrer por nós
Convosco nos fareis ressuscitar.
Clementina Relvas