Nunca pensei que os "olhos do meu coração, no dizer de S. Paulo, revelassem pormenores por mim julgados completamente esquecidos...
Segunda-feira, 30.03.15

 

            Senhor, que abriste o mar

            e retiveste as águas como um dique, 

            iluminaste os Céus com luz de fogo,

            fendeste a rocha dura, erguida a pique

            e dela correu água em abundância

            para dessedentar, no deserto, o Teu povo,

            fizeste maravilhas para ele

            e a nós, Senhor, castigas-nos de novo?

            Olha, Senhor, o mundo que criaste:

            as florestas a arder, as torrentes mortais.

 

            E eu ouço que respondes, irritado:

 

             «Sois vós que a vossa herança maltratais.

             Sois vós que derrubais as vossas árvores

             por ganância e, no leito dos rios,

             construís casas, diques, obstáculos,

             sem aprender com vossos desvarios.

             Não respeitais a obra que Eu criei

             com tanto amor e tanta perfeição,

             poluís água e ar e não cuidais

             que possa ser a vossa perdição».

 

             Como são justos os preceitos de Deus

             e verdadeiras as Suas sentenças.

             Perdoa-nos, Senhor, se foi em vão

             que nos deixaste as Bem-aventuranças.

 

                       Clementina Relvas

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Terça-feira, 24.03.15

Quando o Senhor me chamar para Si,  

seja o meu companheiro, o bom Pastor

me conduza a lugares de águas tranquilas

e a verdes prados, fruto do Seu amor,

que me afaste dos vales tristes e escuros,

onde às vezes passei, por meu pecado.

Não me deixe ter medo de cair,

Ele que é minha vara e meu cajado.

 

Para além desta terra e dos horrores

que transformam em guerra a paz fraterna,

outra vida começa, esplendorosa,

que jamais terá fim, a vida eterna.

E pela porta estreita, em Tua graça,

perdoados meus erros, passarei.

E com a minha taça a transbordar

de amor por Ti, Contigo morarei.

 

Sim, será essa a morada escolhida

por Ti que és o meu guia e o meu pastor

para eu descansar, terminada esta vida,

em verdes prados, reino do Teu amor.

 

Clementina Relvas

 

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Domingo, 22.03.15

      Aperta-se-me no peito o coração,

      agora que estou velha

      e de cabelos brancos,

      ao recordar

      que a morte, passo a passo,

      se aproxima de mim

      para Deus me julgar.

 

     Só Ele conhece o dia,

     sabe a hora,

     em que estarei, enfim,

     sob Seu julgamento.

     Mas sei que Ele é clemente

     e compassivo

     e logo diminui

     o meu tormento.

     Peço-Lhe, «ó Deus,

     não Te afastes de mim,

     não me abandones,

     não me deixes sozinha.

     Ajuda-me a fazer Tua vontade,

     agora, que já sei

     que a morte se avizinha.

 

     Deus é a minha luz

      e a  minha salvação,

      a meta que eu passei

      a vida a procurar.

      Tem piedade, Senhor,

      estende a Tua mão,

      para eu Te encontrar».

 

          Clementina Relvas

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Segunda-feira, 16.03.15

 

                           Para a Senhora D. Edith Renker,

                           com muita admiração e carinho

 

 

                        Ouve, Senhor, a minha oração

                        e aceita o meu clamor.

                        Não desvies de mim o Teu olhar,

                        olha-me, sim, com o teu grande amor.

 

                        Tu deste vista aos cegos

                        Mas a mim, que acato a Tua Lei,

                        tiraste-me o olhar, deixei de ver

                        tudo o que Tu criaste e eu louvei.

 

                        Deixei de ver o Sol e as estrelas,

                        monumentos, pessoas e paisagens;

                        fui guia dos que queriam aprender

                        a conhecer-Te, nas suas viagens.

 

                        Mas agora, ó Senhor, ando perdida

                        a tactear na minha escuridão.

                        Mas amo-Te porque Tu me deixaste

                        os olhos de Te ver: “olhos do coração”.

 

                        Penso em Ti no silêncio do meu dia,

                        elevo para Ti meu louvor, minha prece,

                        e se às vezes vacilo e me interrogo

                        Tu dizes ser por bem o que acontece.

 

                        E eu acredito, ó Deus, pois muito me deixaste

                        na provação que aceito, resignada.

                        Que, com os “olhos do meu coração”,

                        eu possa ver Teu rosto, achar Tua morada,

 

                               Clementina Relvas

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Sexta-feira, 13.03.15

 

              A minha alma, Senhor, está perturbada,

               o meu corpo sem forças e doente.

               A dor turva-me a vista e envelheço,

               não quero acreditar que Tu estejas ausente.

 

               Há os que sofrem por não terem pão

               por não terem um tecto onde viver.

               Há os que têm tudo o que o dinheiro

               lhes pode facilmente oferecer.

                      

               Há os bons, inocentes, desvalidos

               que sofrem injustiças, tanta vez

               e há os maus, os soberbos, que prosperam

               e Tu, Senhor, parece que não vês.

 

               Mas não, Tu sabes tudo o que se passa

               à nossa volta e em nosso coração.

               Escuta, ó Deus, todo o que a Ti se acolhe,

               alivia-lhe a dor, cobre-o com a Tua mão.

 

               Liberta-o da angústia que o esmaga

                seja ele pobre, rico ou pecador.

                Afasta, para longe, a Tua ira,

                tem compaixão de nós,

                perdoa-nos, Senhor.

                            

                                 Clementina Relvas

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Segunda-feira, 09.03.15

Ajuda-me a falar, Senhor, ajuda-me a falar,

que a minha voz é rouca, baça, sem fulgor..

E, para anunciar todas as Tuas obras

dá-me sabedoria e enche-me de amor.

 

Não me deixes, Senhor, ser o sino rachado

que, julgando cumprir sua ingente missão,

desafina e perturba todo o vale e montanha

que, em silêncio, desfia em paz, sua oração.

 

Eu preciso, ó Senhor, do meu coração puro,

purificado por Ti, e que a Tua vontade

se sobreponha sempre à minha tibieza

para que a minha voz se alegre na Verdade.

 

E que, bem afinada, espalhe aos quatro ventos

Tuas grandezas, Teu poder, quanto Tu és 

e como não aceitas sacrifícios, ofertas,

eis-me, Senhor, humilde, ajoelhada a Teus pés.

 

Faz, ó Senhor, da minha voz a Tua voz.

Incute nela àqueles que Te querem seguir

as palavras de vida e salvação de amor,

que perdoam e animam o que quer desistir.

 

E só assim, Senhor, eu merecerei cantar-Te,

ser Teu novo salmista, ser Teu trovador:

Que minha alma, inundada de santa alegria,

seja um contínuo Hossana em Teu louvor

 

                            Clementina Relvas

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Sábado, 07.03.15

                                     QUE MUNDO É ESTE?

 

 

            Quando eu era pequena, com espanto de quantos me rodeavam, perguntei à minha Mãe:

            - Ó Mãe, que mundo é este?

            - A minha Mãe pensou um pouco e respondeu:

            - Filhinha, este é o nosso pequeno mundo, uma aldeia minúscula, mas onde há muitos pequenos mundos, um mundo para cada um de nós…

            - Como assim, se, hoje, na escola, estive que tempos a observar todos os mapas e nem sombra do nome da nossa aldeia!

            - Eu disse-te que era uma aldeia minúscula e os mapas só registam terras grandes (cidades vilas e as raras aldeias com grande valor histórico ou monumental)

            - E os nossos pequenos mundos? Eu nem sei com o é o meu…

            - Olha para ti. Como te vês?

            - Sou pequenina, morena, tenho cabelo escuro e muitos, muitos sonhos. Tu dizes que eu sou teimosa, mas a minha professora apresenta-me aos meus colegas como muito apegada às minhas ideias, aplicada e sempre disposta a levar os meus projetos até ao fim…

            - E esse teu coraçãozinho, que, na verdade, é o centro do teu mundo, como é que te parece?

            - Sei que gosta de ti, do pai, dos meus irmãos, dos meus coleguinhas e, se pensar bem, de toda a gente que conheço e que também acho que gosta de mim. Gosto de tratar bem os animais, de ir dar comida à galinhas e de te ajudar, aos sábados, a distribuir pão e azeite a todos os mendigos que vêm das suas aldeias, pobres e distantes, em busca de alguma coisa que os ajude a sobreviver. E sabes como fico triste com aquele rapaz que vem estendido sobre o seu burrinho, porque nasceu todo torto e a quem tu sempre dás um prato de sopa (que tens de lhe meter na boca com uma colher). Também sabes como gosto dos velhinhos, especialmente da Senhora Alda, quase ceguinha e que, quando volto da Escola, me aguarda todos dias para eu lhe enfiar as agulhas com linhas de várias cores. Tenho muita pena dos doentes e fico muito triste quando alguém morre e vejo toda a família numa grande aflição. Como quando morreu, num acidente, com cinco anos, o meu irmãozinho Zeca, assunto de que não quero falar.

            Mas também gosto de brincar: de jogar às escondidas, à macaca e

com as lindas bonecas que tu me fazes: um ramo seco de oliveira, com dois ramos mais pequenos a fazer de braços, uma cabeça de algodão em rama, envolta num pano claro, onde pintas os olhos, a boca as orelhas, o nariz e toda vestida pelas roupas que lhe fazes, sempre diferentes e que tanto me encantam.

            Ah! Já me esquecia! A maior parte do meu mundo são as leituras:

os textos dos livros escolares e também aqueles livros já um pouco usados, que o tio António comprou quando veio do Brasil: Os Lusíadas, o que conta a vida de Genoveva de Brabante, coitadinha, uma senhora nobre a ter de viver no  meio da floresta com o filho pequenino a ser amamentado por uma corça, um livro de contos, onde conheci a Carochinha, a Branca de Neve, o João Ratão o Ali. Babá e os quarenta ladrões e poucos mais que o dinheiro era preciso para outras necessidades.

            E olha! Afinal o meu mundo não vem no mapa, mas afinal é tão grande e variado, que me fico por aqui, pois tu já estás cansada da minha tagarelice e tens muito que fazer.

           

           Lisboa, 7 de Março de 2015

 

                  Clementina Relvas

 

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Sexta-feira, 06.03.15

«Não tenhas medo», dizes Tu, com voz segura,

Tu, que és a fonte da nossa esperança.

«Afasta-Te do mal, pratica o bem

e viverás na minha segurança.

 

Confia em Mim e segue os meus caminhos»

que hei-de fazer de ti o meu herdeiro.

E se desanimares, julgando-te sozinho,

perante Mim serás sempre o primeiro.

 

«Afasta-te dos maus», que proliferam

como árvore frondosa mas fatal.

Enchem-se de soberba e esse veneno

pode mudar-te a rota para o mal.

 

Mas tu «Não tenhas medo», estou contigo:

farei que sejam firmes os teus passos.

O mal desapareceu, desapareceu o perigo,

vem acolher-te, filho, nos meus braços.

 

  Clementina Relvas

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Quarta-feira, 04.03.15

O homem rico brilha na escuridão

como uma luz, se for recto e bondoso:

se emprestar sem usura e em seus negócios,

se revelar honrado e generoso.

 

Se for fiel a Deus e aos Seus preceitos

e repartir com os necessitados

se souber aceitar tudo o que tem

tal um tesouro que lhe foi emprestado.

 

Foi-lhe emprestado para o pôr a render

usando os seus talentos, sem ter medo

de Deus quando Ele lhe perguntar

que fez do seu tesouro, tarde ou cedo.

 

Se não souber gerir sua fortuna

e a esconder, fechada numa tulha,

terá mais custo em alcançar o Céu

que um camelo em passar por uma agulha.

 

Mas se a fez prosperar e a repartiu

com os que lhe pediram seu auxílio,

será como uma luz na escuridão

ou como a liberdade no exílio.

 

Por isso, ó Deus, derrama a Tua bênção

sobre o rico que palmilha os Teus passos,

pois será pobre no seu coração

e, assim, recebido nos Teus braços.

 

Clementina Relvas

 

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Terça-feira, 03.03.15

Não Te zangues comigo, ó meu Deus,

não desvies de mim o Teu olhar!

Diz-me o que queres que eu faça

pois bem sabes que Te ando a procurar.

 

Guia-me , ó Deus, por Teu reto caminho,

ainda que me custe alguma dor.

Este, que eu piso, está todo minado

pela ânsia de ter o que é melhor.

O que é melhor, ó Deus? Nossos critérios

tudo avaliam por seu peso em ouro.

E esquecem os conselhos que nos deste

para, no Céu, juntarmos um tesouro.

 

Parar um pouco a nossa correria,

olhar os lírios e os passarinhos:

não semeiam, não colhem e, contudo,

têm trajes de festa e refúgio em seus ninhos.

 

Foi preceito de Deus que o homem tinha

de se manter com o suor do seu rosto.

De se manter a si e ao que dele se aproxima

com o mesmo afã que em si teria posto.

 

E quem partilha agora, quem, Senhor,

o pão e tudo o mais que faz sua riqueza?

Quem se importa de Lázaro, a implorar

as migalhas que caem sob a mesa?

 

Por isso Te suplico, ó Senhor,

não desvies de mim o Teu olhar,

não me deixes vencer pelo egoísmo,

ensina-me, Senhor, a partilhar.

 

              Clementina Relvas

 

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