Senhor, que abriste o mar
e retiveste as águas como um dique,
iluminaste os Céus com luz de fogo,
fendeste a rocha dura, erguida a pique
e dela correu água em abundância
para dessedentar, no deserto, o Teu povo,
fizeste maravilhas para ele
e a nós, Senhor, castigas-nos de novo?
Olha, Senhor, o mundo que criaste:
as florestas a arder, as torrentes mortais.
E eu ouço que respondes, irritado:
«Sois vós que a vossa herança maltratais.
Sois vós que derrubais as vossas árvores
por ganância e, no leito dos rios,
construís casas, diques, obstáculos,
sem aprender com vossos desvarios.
Não respeitais a obra que Eu criei
com tanto amor e tanta perfeição,
poluís água e ar e não cuidais
que possa ser a vossa perdição».
Como são justos os preceitos de Deus
e verdadeiras as Suas sentenças.
Perdoa-nos, Senhor, se foi em vão
que nos deixaste as Bem-aventuranças.
Clementina Relvas