Nunca pensei que os "olhos do meu coração, no dizer de S. Paulo, revelassem pormenores por mim julgados completamente esquecidos...
Quarta-feira, 20.05.09

 Meus queridos netos:


Hoje o toque de alvorada foi às 6 horas da manhã, pois o percurso de autocarro até Taormina é muito longo. É pena que, correndo a auto-estrada sempre à beira do Mar Tirreno, raramente se possa desfrutar a paisagem costeira, porque, tratando-se duma região montanhosa, são inúmeros os túneis, alguns muito longos, que tivemos de passar. Para amenizar a viagem e após a habitual recitação de alguns salmos e orações, entoámos algumas canções, entre elas a reprodução dos ruídos duma caravana, no deserto:


Gale, gale, galezum
Gale, gale, galezum,
Gale, gale, galezuum –gal, a que se seguiam chs, brres


e, a terminar, uns doloridos AI, Ai, Ai… melopeia que terminava quando se alcançava o fim do túnel. Aqui é de justiça dizer que a animação se deveu ao nosso dinâmico prior, sempre afável e bem-disposto. Ao sair dum dos túneis, lá no alto, avistámos o Mosteiro de Nossa Senhora de Tindari , situado no promontório de mesmo nome, a 270m de altitude e passámos ao largo das Ilhas Eólias (Lipari, Salina, Vulcano, Pananea, Stromboli, Filicud e Alicud).


E assim chegámos a Taormina, nos flancos do Monte Taurus, a 200m. de altitude. O monte tem três picos, um maior, central e dois laterais e, lá no alto, a Igreja de Nossa Senhora da Rocha e um castelo árabe. Como o autocarro teve de estacionar longe da cidade, fomos transportados em táxis ou carrinhas até a uma das portas da cidade. Taormina é um lugar de sonho, tranquilo, com numerosos terraços sobre o mar, o que nos proporcionou muitas vistas deslumbrantes. É uma cidade elegante e monumental, dotada dum glorioso passado, paraíso dos turistas e dos VIP a que o seu clima ameno e as belezas naturais atraem durante todo o ano.


A cidade tem duas portas: a porta Messina, perto da qual ainda restam numerosos vestígios dum cemitério romano e a porta Catânia, por onde se entra no centro histórico. Até ao séc. XVIII, as duas portas eram fechadas todos os dias,


As ruas de Taormina, mesmo a rua principal, a via Umberto, que vai dar à Torre do Relógio , são estreitas mas muito bem cuidadas e floridas e por aqui passaram todos os numerosos invasores, entre os quais se distinguiram os gregos e os romanos. Foi durante a dominação romana que a cidade atingiu o máximo esplendor, mas, com a queda do Império, Taormina foi conquistada pelos bizantinos que aí se mantiveram durante três séculos, até à chegada dos sarracenos, em 820 D.C. Estes saquearam e destruíram toda a cidade, mas depois esmeraram-se a reconstruí-la. Foi ainda dominada pelos normandos, pelos castelhanos (Carlos V), pelos ingleses e outros, até que, em 1860, foi libertada por Garibaldi. Esta atracção geral por Taormina resultava não só das suas muitas belezas naturais mas principalmente da posição privilegiada, que a tornava praticamente invulnerável.


Desse passado tão rico, destacam-se as ruínas do pequeno teatro do Odeon e, sobretudo, as ruínas teatro Greco-Romano, construído pelos gregos no auge do seu esplendor e completamente modificado pelos romanos, que o adaptaram aos seus jogos circenses, acrescentando-lhe galerias na parte superior, comunicando entre elas por dez portas. Transformaram a orquestra em anfiteatro, eliminaram o cenário e substituíram-no por um palco com dois pisos e numerosas colunas de mármore, muitas das quais os taorminenses utilizaram na construção da sua Igreja Matriz.


Apesar de todos estes incidentes, as imponentes ruínas deste teatro, cuja cena tem por fundo o Etna em toda a sua majestade, são, ainda hoje, admiráveis e comoventes. Subindo-se a grandiosa e bem conservada escadaria pode percorrer-se toda a parte superior, donde se alcança uma panorâmica de 360º, não só sobre a cidade e belíssimas baías dos arredores de Taormina, como também sobre o Etna, o maior vulcão activo da Europa, que, disse-nos o nosso guia, por vezes, quando tem erupções de grande altura, proporciona um cenário indescritível por trás do palco, onde se exibem espectáculos teatrais, de ópera, de bailado, etc.


Depois de termos visitado esta maravilha, ouvimos missa na Igreja de Santa Catarina de Alexandria, celebrada pelo nosso Pároco de Benfica, que me trouxe à memória a Basílica de Santa Catarina, em Jerusalém, cujos lustres tinham a forma de rodas, em alusão ao martírio daquela Virgem.


Também estivemos na Praça IX de Abril, cuja Torre do Relógio, a que já fiz referência, foi construída como fortaleza pelos primeiros habitantes de Taormina com blocos de pedra, cúbicos, sobre cimentos ciclópicos e que tem enorme valor arqueológico.


Ao deixarmos Taormina para retomar o nosso autocarro, o nosso último olhar perdeu-se no imponente Hotel Excelsior, debruçado sobre aquela paisagem de sonho. E que sonho bom seria passar ali uma semana de férias! Mas, como não se pode ter tudo, demos graças a Deus por podermos ter conhecido esta jóia siciliana e partimos em direcção a Palermo, capital da Sicília, para tomarmos o navio que nos há-de transportar ao continente italiano, mais propriamente a Nápoles.


Beijinhos dos Vóvós peregrinos e turistas! Brevemente cá estarei com novos relatos da nossa inesquecível viagem.

 

 

               O Autocarro no qual fizemos o circuito da Sicília

             Taormina - Torre do Relógio - Entrada na cidade

                     Taormina - Teatro Greco-Romano

          Taormina - Igreja de Santa Catarina de Alexandria

       Em direcção a Palermo - Paragem numa zona de serviço

 

 

 


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