Meus queridos netos:
Ontem, apesar do frio, saí à noite e, como é habitual todos os anos por esta época, a minha rua (e a maior parte das ruas da cidade), resplandecia do brilho de milhares de luzinhas, que punham as almas em festa, na expectativa do Natal.
Este ano, cada grinalda de estrelas suspende no ar, graciosamente, um anjo : é só o seu contorno em luzes brancas e, à volta, luzinhas cor de rosa para o tornar mais vivo e apelativo. As pessoas passavam, sem parar, mas eu tinha a impressão de que aquela luz, embora vista de relance, punha em todos os olhos, por vezes espelho duma vida difícil, um brilho nascido em cada coração, só porque era Natal: uns deitavam contas à vida para não falharem com a consoada e os presentes, antegozando a reunião da família que, no aturdimento da vida quotidiana, se tornava cada vez mais espaçada e difícil; outros já se reviam no aconchego da lareira em qualquer ponto do país, onde se sabiam ansiosamente esperados; e outros lá iam, apoiados à sua muleta e curvados pelos anos e pelas artroses, acalentando a esperança de que, nesse dia, alguém havia de bater-lhe à porta: uma vizinha e amiga ou aquela simpática senhora do Centro Social…
De repente, eis que uma menina puxava o braço da Mãe e exclamava, fazendo-a parar: “Olha, Mamã, tantos anjinhos que vieram para esta rua! Achas que todos eles estão, como eu, ansiosos pelo dia de anos do Menino Jesus? E já viste quantas festas Ele vai ter, em todas as casas, não é?”. A Mãe, seguindo, comovida, o olhar da criança e os seus sonhos, não quis toldar aquela carinhosa esperança e calou os seus pensamentos: “ Infelizmente, há muitas casas em que o Menino Jesus não entra, pois já estão todas a abarrotar de coisas. Ele é a árvore de Natal toda iluminada e rodeada de lindos embrulhos enfeitados de fitas e laços, a grande mesa da consoada onde se acumula tanta comida que até se perde o apetite, a algazarra das pessoas que aproveitam para pôr em dia as conversas sobre as suas vidas, tão atarefadas e, graças a Deus, também os risos e, por vezes, as canções de crianças, felizes por verem os outro felizes e por terem recebido muitos presentes. “
Porém, a menina continuava: “ Ó Mamã, tu vais fazer um bolo de anos para o Menino Jesus?”.A Mãe pensou um pouco e disse: “Todos os bolos que a Mamã faz, as rabanadas, os sonhos, os coscorões são do Menino Jesus porque é Ele que nos dá, a mim e ao Papá, a saúde e o emprego para podermos fazer a ceia dos Seus anos e comprar os presentes, que evitamos sejam muitos para ajudar os que não têm nada”.
E já ambas seguiam o seu caminho, sob o dossel dos anjos de luz, quando a menina pediu: “ Mas olha, Mamã, o que eu queria era que tu fizesses o bolo de chocolate que é o mais bonito dos meus anos e lá escrevesses assim: “Muito obrigado, Menino Jesus. Todos nós gostamos muito de Ti”.
Então é que os olhos da Mãe se iluminaram e ela disse, comovida: ” Essa vai ser a oração que todos nós, lá em casa, vamos rezar este Natal”.
Já tinham atravessado para outra rua, onde as luzes não desenhavam anjos, mas evocavam, de igual modo, a verdadeira Luz do Deus que Se fez homem para nos tirar das trevas e nos dar a esperança da Ressurreição.
Que seja essa seja a Luz a iluminar as vossas vidas, são os desejos que saem dos corações dos vossos Vóvós