Meus queridos Netos:
Desde há longos anos que sentia grande admiração pelas glicínias: pela sua cor, simultaneamente forte e delicada, pelo acentuado e agradável perfume das suas flores e pela sua estrutura, em cachos pendentes, que tanto lhe permitem ornamentar muros de casas e jardins como pender de latadas em fantasmagóricas cortinas de azul.
Depois, encantei-me com uma glicínia que. no muro do jardim duma casa em frente da Igreja da Força Aérea, antes a primitiva e bela paroquial de S. Domingos de Benfica (monumento nacional, onde se encontram os restos de João das Regras e uma pedra tumular de Frei Luís de Sousa), me anunciava, bem como as brancas coroas de noiva suas vizinhas, a chegada da Páscoa.
E perguntava-me a mim mesma donde teria vindo flor tão singular, mas sem nunca ter procurado resposta para a minha curiosidade. Até que, no número de Maio da Revista do Inatel, que todos os meses é enviada gratuitamente aos associados, me deparei com um belíssimo artigo de Susana Neves e, aí, a informação que desejava e de que vos transmito os elementos que achei mais interessante.
Assim, muito abundante e antiga na China e no Japão, entrou na Inglaterra depois duma longa viagem de barco, a partir do porto de Cantão, em 1816, como oferta dum rico vendedor de glicínias chinês ao Comandante Robert Welbank, que a ofereceu a um seu cunhado.
Como a glicínia só floresce a partir dos sete anos, dado desconhecido do novo proprietário, este, supondo que a falta de flores era devida ao frio, submeteu-a, em estufa, a uma temperatura até 20º, o que, aliado a uma praga de aranhas vermelhas, por pouco não a aniquilava. Só em Março de 1819 é que se viu coberta de longos cachos de flores azul-lilás e daí o seu nome chinês de vinha azul. E porque as flores são intensamente perfumadas , os ocidentais chamaram-lhe glicínia, do grego glykys.
Descobrindo que a lenta propagação através de sementes podia ser acelerada se se adotasse a utilização de estacas, em breve as glicínias iam recobrir mansões e florir em modestos jardins e espalhar-se por vários países ocidentais. Geralmente eram podadas mas, em 1896, uma que foi plantada na Sierra Madre (Califórnia) mereceu as honras do Guiness Book como a maior planta do mundo entre as que dão flor. Pesa 250 toneladas, ocupa cerca de meio hectare, e dá, por ano, cerca de 1,5 milhões de flores.
Para minha maior satisfação, soube que era a planta preferida de Claude Monet e que aquilo a que ele chamava o seu “colorido suspenso” terá modificado a sua maneira de pintar, acentuando o aspeto onírico que caracteriza muitas das suas telas e que tanto me fascina.
Aprendemos todos muito, não acham? E dos novos conhecimentos ficamos gratos a Susana Neves. Obrigados!