Meus queridos netos:
Continuaram, mas agora a poucos quilómetros de distância, no INATEL de Vila Ruiva, uma pequena aldeia muito calma, rodeada por alguns pomares de macieiras, mas que tem apenas uma capela para a devoção popular e nenhuma loja. Eu achava graça às buzinadelas matinais da carrinha do pão, o único rasgo no pacífico silêncio que a torna um aprazível local para descanso.
O INATEL de Vila Ruiva tem, como o de Linhares, no meio dum vasto terreno, menos ajardinado mas com algumas belas e imponentes árvores, e a predominância do rosmaninho a impregnar do seu perfume o ar puro da serra, um palacete mais modesto, sem brasão e que foi doado por um médico filantropo. Esse espaço, talvez para preservar a memória do benfeitor, continua a acolher hóspedes mas, num declive próximo, foi construído “de raiz” um outro edifício, este com a particularidade de começar no limite do espaço plano, onde algumas frondosas árvores abrigam do sol escaldante os carros estacionados. Por meio de escadas ou duma confortável rampa, acede-se ao piso menos um, onde se situam a receção, um moderno bar, a sala de estar com uma televisão de grande qualidade, mesas para jogos e a vasta sala de jantar toda aberta para o exterior e com uma vista magnífica para a Serra da Estrela.
Por meio dum ascensor panorâmico, desdenhado pelos mais jovens que lhe preferiam a escada em aço e artística conceção em ziguezague, mas delícia dos mais idosos, descia-se aos pisos menos dois e menos três, aberto para um vasto espaço limitado por um ribeiro escondido entre árvores verdejantes. Ainda neste piso, além de quartos muito confortáveis e um ginásio, foi criado um original jardim, onde, no meio dum chão feito de seixos rolados pretos e claros lembrando as nossas originais calçadas portuguesas, se erguiam algumas plantas exóticas. Aí se perdia o nosso olhar sempre que utilizávamos o elevador. É uma notável marca de beleza, mas não a única: por todas as paredes se podiam admirar quadros com fotografias de artista que soube escolher, com realismo e bom gosto, aspetos da região: desde o imponente e bem conservado Castelo de Linhares, árvores magnificentes isoladas ou em conjuntos inesperados, até uma linda rosa encarnada a espreitar pela fenda duma parede de xisto. Uma agradável surpresa e, sem exagero, um encanto, que nos surpreendeu agradavelmente e substituía a exposição de pintura que ali se encontrava no ano anterior.
Aqui, as piscinas ficavam a poucos metros do meu quarto, no piso menos dois, o que me proporcionou aprazíveis momentos de repouso ou a leitura de livros que tinha levado e esperavam, ansiosos, a hora de serem lidos.
Além de ter valorizado a minha intenção de descanso, a pensão completa, (um buffet com abundante e variada comida, desde as entradas às muitas e variadas sobremesas e muita fruta) não podia ficar esquecida pois, se “nem só de pão vive o homem”, também a fome não é uma boa condição para apreciar paraísos como este.
Lisboa, 21 de Setembro de 2012
Clementina Relvas